quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PARIS ARDE

Milhões saem às ruas contra governo Sarkozy
O novo dia de greves e protestos, o sexto desde setembro, repetiu a participação dos anteriores, com o agravante da falta de combustível, devido ao bloqueio dos depósitos e à greve nas doze refinarias da França. Cerca de três milhões e meio de pessoas saíram às ruas contra o projeto de reforma do sistema de aposentadorias proposto pelo governo de Nicolás Sarkozy. O mais inquietante para o governo e sua estratégia de reeleição é a maciça irrupção da juventude nas ruas. Para a imensa maioria de jovens, Nicolas Sarkozy passou a ser o presidente dos ricos, o homem cuja inflexibilidade social exclui toda idéia de diálogo.
Eduardo Febbro, Página/12 - Tradução: Katarina PeixotoÀs cinco e meia da tarde, quatro horas depois de ter começado a manifestação contra a reforma da previdência, o último bloco da CGT (Central Geral de Trabalhadores, da França) saiu da Place D'Italie cantando A Internacional. Na sua frente se movia uma maré humana de sindicalistas, jovens, universitários, empregados, servidores públicos, trabalhadores do metrô, funcionários dos correios, aposentados e professores que, assim como em 270 localidades do país, saíram pela nona vez – saiu da Place D'Italie cantando A Internacional. Na sua frente se movia uma maré humana de sindicalistas, jovens, universitários, empregados, servidores públicos, trabalhadores do metrô, funcionários dos correios, aposentados e professores que, assim como em 270 localidades do país, saíram pela nona vez – saiu da Place D'Italie cantando A Internacional. Na sua frente se movia uma maré humana de sindicalistas, jovens, universitários, empregados, servidores públicos, trabalhadores do metrô, funcionários dos correios, aposentados e professores que, assim como em 270 localidades do país, saíram pela nona vez – e na sexta desde setembro – às ruas, contra o projeto de reforma do sistema de aposentadorias, cuja discussão se retoma hoje no Senado.
Três milhões e meio de pessoas, segundo os sindicatos, pouco mais de um milhão para o Ministério do Interior – as diferenças abismais são uma especialidade francesa -, o novo dia de greves e protestos repetiu a participação dos anteriores, com o agravante da falta de combustível, devida ao bloqueio dos depósitos e à greve nas doze refinarias da França.
Mas o êxito da jornada não está garantida: o governo não move nem um pingo de seu projeto de reforma e os sindicatos chegam ao fim de uma extensa campanha sem ter conseguido mudar o projeto de lei. 71% da opinião pública apóia o movimento de protesto, enquanto 79% dos entrevistados avalia que o governo deve negociar com os sindicatos. Tanto o presidente, Nicolas Sarkozy, como o primeiro ministro, François Fillon, ressaltaram que não haverá mudanças no eixo central da reforma, quer dizer, a questão da idade mínima para se aposentar, de 60 para 62 anos, e de 65 para 67 anos, para ter direito à aposentadoria integral.
No balneário de Deauville, onde assistia a uma reunião com a chanceler da Alemanha e o presidente russo, Nicolas Sarkozy disse: “Um chefe de Estado tem deveres perante os mais jovens e ante os desequilíbrios fundamentais do país”. Sem precisar quais, Sarkozy prometeu medidas para compensar a falta de combustível e o primeiro ministro calculou que seria preciso “quatro a cinco” dias para que o fornecimento de combustível volte à normalidade.
As manifestações de ontem contaram com princípios de violência, em Paris e sobretudo, Lyon, onde se viram cenas dignas de guerrilha urbana entre os jovens e a polícia. Os gritos e os cartazes engraçados dos jovens secundaristas sobressaíram em todos os cortejos. Havia um tom irônico e irritado nessa juventude que gritava “Lutamos pelas aposentadorias, lutaremos para mantê-las”. Jean, um jovem de 17 anos de um Liceu do distrito 14 de Paris, dizia: “Este é um governo de ricos, que dita medidas para os ricos, que protege os poderosos e que, para além da batalha das aposentadorias, deixa a juventude e os idosos caírem na miséria”.
Os slogans cantados em Paris tinham todos Nicolas Sarkozy como objetivo e sua política econômica, como adversária. Umas 85 universidades foram bloqueadas ontem, e entre 400 e 1200 alunos não puderam ter aulas. As cifras diferem, assim como quanto ao número de manifestantes, segundo a fonte, governo ou associações de estudantes. Os efeitos da greve se tornaram evidentes no caso da distribuição de combustíveis, com 2500 postos de gasolina sem combustível, o que representa 20% do total.
Se entre hoje e amanhã o Senado não bloquear a lei, Nicolas Sarkozy terá sua grande reforma. É um emblema de seu mandato, iniciado sob a filosofia da reforma. Mas os franceses são incapazes de situar ou nomear as reformas defendidas desde 2007. O tema foi inclusive uma piada recorrente nos eventos da campanha das eleições européias de 2009. “Quem pode citar uma reforma de Sarkozy?”, perguntava a oposição. Agora, Nicolas Sarkozy tem quase ganha a sua grande reforma, necessária, segundo ele, para equilibrar a previdência, reduzir o déficit e diminuir a dívida da França.
Mas a reforma tem seu outro lado. Ao ter recusado toda negociação, inclusive descartando a mão estendida por sindicatos como a CFDT, Sarkozy criou as condições para a atual confrontação social e terminou delineando uma maioria contra a reforma, quando, desde o princípio, a sociedade aceitava a hipótese da mudança.
As ruas estão contra o governo porque o governo lhes fechou as portas. Os sindicatos prevêem novos protestos, mesmo que o projeto seja aprovado. O mais inquietante para a maioria e sua estratégia de reeleição é a tardia mas maciça irrupção da juventude nas ruas. 2012 – ano da eleição presidencial – está muito próximo. O fator juventude nunca entrou nos cálculos do Executivo. Os socialistas rearmaram sua credibilidade e sua mensagem, com a batalha da previdência. Para a imensa maioria de jovens, Nicolas Sarkozy passou a ser o presidente dos ricos, o homem cuja inflexibilidade social exclui toda idéia de diálogo. O ideal de uma reforma corajosa e aceitável se diluiu aos pés de milhões de pessoas que saíram às ruas. O Executivo levará a reforma até o fim, mas pode ser que tenha perdido, pelo caminho, o laço com a geração que dentro de dois anos irá às urnas.
Tradução: Katarina Peixoto

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