Por Marcos Coimbra.
É fato aceito que o segundo turno decorreu fundamentalmente do desempenho de Marina Silva, em especial de seu crescimento nos últimos dias, quando se tornou opção para eleitores de classe média país afora. Mas não foi apenas esse fator que levou as eleições presidenciais para a fase de agora.
Na verdade, é impossível explicar o resultado de uma eleição tão grande, na qual mais de 111 milhões de eleitores compareceram para votar, a partir de causas isoladas. Foram tantas as circunstâncias que afetaram as pessoas naqueles dias que será necessário tempo para que as consigamos identificar.
Mas houve um fato que contribuiu decisivamente para o resultado: a performance de Serra em alguns estados do Sudeste e do Sul. Em São Paulo e em Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do Brasil, ele superou as expectativas das pesquisas, sendo que, em Minas, por larga margem. Também no Paraná e em Santa Catarina algo semelhante aconteceu, em escala um pouco menor.
Se considerarmos que o conjunto das pesquisas disponíveis captava corretamente o que estava acontecendo nesses estados até meados de setembro, tivemos neles um expressivo crescimento de Serra nas duas semanas finais da eleição. Foi um movimento tão importante quanto o bom desempenho de Marina na explicação do desfecho do primeiro turno.
Nos três outros estados das duas regiões, não houve surpresas em relação a Serra. No Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, ele ficou do tamanho que as pesquisas estimavam: atrás, mas perto de Dilma, no primeiro e no terceiro; distante dela e de Marina no Rio. Tanto lá quanto no Espírito Santo, o problema de Dilma foi apenas a performance de Marina.
É evidente que muita coisa aconteceu em São Paulo, em Minas, no Paraná e em Santa Catarina que explica por que Serra melhorou. Cada estado tem particularidades, em cada um a campanha assumiu características próprias.
Todos, no entanto, parecem-se em uma coisa: nos quatro, Lula se envolveu na guerra das sucessões estaduais, sempre assumindo o lado que contrariava o sentimento majoritário do eleitorado.
Retrospectivamente, vê-se com clareza que foi isso que ele fez. Nos quatro estados, venceram os candidatos a que Lula se opunha, todos no primeiro turno. Ou seja: não apenas ele não levou aqueles que apoiava à vitória, mas confrontou o desejo de mais da metade dos eleitores de cada lugar.
As vitórias de Anastasia, Alckmin, Beto Richa e Raimundo Colombo não foram ameaçadas pela participação de Lula nas campanhas de Hélio Costa, Mercadante, Osmar Dias e Ideli Salvati. Nenhum dos seus candidatos “virou” o quadro desfavorável com que se defrontava.
É provável, no entanto, que o preço pago por Lula tenha sido alto. Ter ido brigar (inutilmente) por esses candidatos pode ter tirado sua força na batalha principal: eleger Dilma.
As eleições estaduais transcorriam em um plano e a presidencial em outro. Em Minas, não era estranho que o eleitor pensasse em Anastasia e Dilma, assim como nela e, no Paraná, em Beto, ou, em Santa Catarina, em Raimundo Colombo. Até em São Paulo, não era incomum votar em Alckmin e em Dilma.
O que levou inúmeros eleitores nesses estados a se “alinhar”, votando no PSDB (ou no DEM) para os governos estaduais e para presidente, foi o discurso dos aliados de Lula. Foram eles que condicionaram o voto em Dilma a opções locais que eram contrárias ao que a maioria queria.
O uso (ou, melhor dizendo, o abuso) da imagem de Lula, desperdiçada na tentativa de eleger esses candidatos (alguns inteiramente inviáveis), só enfraqueceu seu poder de transferência. Melhor se o tivesse preservado para função mais relevante.
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