segunda-feira, 12 de julho de 2010

ANTES ASSIM

RUY CASTRO
Vinte e poucos dias fora do Brasil, quase todos em cidades mais na rota turística de 1010 que de 2010, como Lagos e Sagres, em Portugal, e Sevilha e Córdoba, na Espanha, já seriam uma ideia considerável de férias reforçam a convicção de que o tempo é eterno e não há razão para afobamentos. E mais ainda se, no intuito de zerar o QI, o cidadão conseguir se manter a uma distância segura da informação.
Para isso, contribui a alergia da maioria dos jornais europeus pela notícia (e a da televisão, maior ainda), em troca de altas análises sobre o aumento do pedágio nas estradas portuguesas ou a ameaça de uma praga de pulgões nas plantações de girassóis da Espanha. Se, além disso, você se conservar longe da internet, não abrir o e-mail e não telefonar para casa -fácil para quem não usa celular-, ficará maciçamente por fora do que acontece por aqui.
Em três semanas, exceto pelo fracasso da seleção na Copa, os únicos ecos de uma provável existência do Brasil captáveis na Europa, e mesmo assim nos canais internacionais, referiram-se às chuvas no Nordeste, logo suplantadas por tragédias similares em outros burgos. Na TV, tudo se resume a um show, e o conteúdo humano de um fato está na relação direta do impacto das imagens, capaz de permitir sua repetição cem vezes por dia.
Mas não quer dizer que o Brasil estivesse fisicamente ausente da Europa. Ao contrário, nunca vi tantos brasucas fora de casa. A frase de Millôr Fernandes, de que não existe o japonês individual, começa a nos ser aplicável. Não se pode dar um passo por uma ruína moura ou cristã sem ouvir alguém falando atrás de nós, "Jéssica, tire o dedo do nariz!" ou "Suélen, pare de flertar com o guia!".
O dinheiro parece estar sobrando para o brasileiro, e ele já não o está usando apenas para comprar secadores de cabelo em Miami, como até há pouco. Antes assim.

Nenhum comentário: