segunda-feira, 12 de julho de 2010

APRENDENDO

Editorial, Jornal do Brasil.
A hora de tirar lições da festa.
Faixa de boas-vindas no Cristo Redentor convida para Copa de 2014.
Foto: Beth Santos/Prefeitura do RJ
A merecida festa do povo espanhol com a vitória na final da Copa do Mundo 2010 de futebol, na África do Sul, é mais do que justa. Mas se há outro povo que merece comemorar, este é o sul-africano. Contra muitas expectativas negativas, foram mais de 20 dias de competições nas quais o maior barulho foi feito pelo som tonitruante das vuvuzelas. Fabricadas em indústrias de fundo de quintal na China, essas cornetas improvisadas transformaram as transmissões de tevê em um desafio técnico, mas simbolizaram também a alegria de um continente que, pela primeira vez em muitas décadas, se viu na berlinda internacional por uma causa positiva. Depois de anos exportando imagens de violência, de guerras civis, das sangrentas batalhas pelos diamantes de sangue, das crianças transformadas em soldados, o berço da humanidade mostrou que, havendo confiança, crédito, competência e vontade política, todas as dificuldades são superáveis. É sempre bom lembrar que, em um determinado momento da caminhada, a preparação chegou a estar tão atrasada no país que temia-se pela possibilidade de que a competição fosse iniciada em um cenário inacabado.
Nada disso aconteceu. Salvo problemas pontuais, como o furto de equipamentos de equipes de imprensa em hotéis, ou por greves de funcionários de segurança que mobilizaram a polícia, o que se viu foi uma festa até tranquila, sem arruaças ou badernas. Lembrando da Copa da Alemanha, em 2006, não houve nenhum incidente no nível do que se registrou na competição anterior, envolvendo grupos neonazistas infiltrados nas torcidas ou os temíveis hooligans ingleses.
Agora é a vez do Brasil. Com o fim da festa ontem, o relógio para nós começou a correr ao contrário. Observar as lições que os sul-africanos deram em termos de organização, bem como aquilo que saiu errado, é o primeiro dever de casa da comissão organizadora da Copa 2014. Há muito trabalho a ser feito ainda, fala-se em um certo atraso nas obras necessárias, mas nada que não possa ser revertido havendo espírito de união e trabalho em equipe. Afinal, esta é uma chance de ouro para um continente, para um país, e principalmente para uma cidade como o Rio de Janeiro, cuja vocação turística deverá ser simplesmente catapultada pelo simples fato de ser parte da festa principal do futebol.
Se os Jogos Olímpicos serão um empreendimento hercúleo, a Copa de 2014 será, para os brasileiros, o momento de graça. Temos chance de fazer bonito em todos os esportes, mas é no futebol que o Brasil tornou-se símbolo de criatividade, da alegria e da extroversão de seu povo. Para que possamos brilhar mais que os sul-africanos – o que será uma missão árdua, dado o entusiasmo transformador que emanaram – necessitaremos a partir de agora nos concentrar na primeira grande realização da próxima década.

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