Globo desmente o que todo mundo viu
Se não conseguir eleger Serra, a Globo pode lhe oferecer a bancada do JN
A antes onipotente Rede Globo agora se preocupa com a blogosfera. Depois de retirar do ar uma campanha de seus 45 anos, que tinha o objetivo implícito de campanha para José Serra, a vênus platinada emitiu nota para dizer que tratamento aos três candidatos à Presidência entrevistados pelo Jornal Nacional foi equânime.
É lógico que ninguém vai acreditar na Globo, mas a emissora piscou primeiro e percebeu que tinha exagerado na dose ao deixar a dupla de apresentadores de seu principal telejornal tentar massacrar Lula e depois se mostrar educada e reverente em relação a Serra. Nenhum grande jornal protestou contra isso, e as queixas ficaram ao nível da blogosfera, que muitos procuram desprezar.
Na verdade, a voz da blogosfera ganhou ainda mais realce com o o gesto de Lula de oferecer uma rosa a Dilma Rousseff para compensar a falta de gentileza do Jornal Nacional com sua candidata. A TV Globo diz que houve igualdade de tratamento e cita até o que seria um suposto equilíbrio nas queixas da militância dos três partidos.
A Globo nem precisava ter feito esse esforço. Bastaria ler o que escreveu o aliado de Serra, o deputado cassado Roberto Jefferson em seu twitter: “William Bonner e Fátima Bernardes facilitaram para o meu candidato. Foram mais amenos com ele”. Ou o blogueiro de política do Estadão, João Bosco Rabello: “Foi mais fácil do que para os adversários.”
A Globo tenta desmentir o que todo mundo viu. Aliás, essa é uma tendência da emissora desde que a sua direção foi assumida por Ali Kamel, que se dedica a provar que não existe preconceiro racial no Brasil. Kamel tenta reescrever a história do Brasil e da TV Globo sob sua ótica. Garante que a Globo não ocultou ao máximo a campanha das Diretas Já, que não atuou no caso Proconsult, que tentou roubar de meu avô a eleição a governador do Rio, em 1982, e que não manipulou a edição do debate entre Lula e Collor, em 1989. O diretor da Globo vive no país do faz de conta e acha que alguém acredita nele.
Veja a íntegra da nota da Globo, reproduzida em blog da Folha, que é bem capaz de ter sido escrita de próprio punho por seu diretor-geral:
“Desde 2002, as entrevistas têm o mesmo tom, com todos os candidatos. Neste ano, não foi diferente. Basta comparar as entrevistas dos três candidatos, pergunta por pergunta, para perceber que tiverem o mesmo grau de dificuldade.
Apesar disso, militantes do PT reclamaram da entrevista de Dilma, militantes do PV reclamaram da entrevista de Marina e militantes do PSDB reclamaram da entrevista de Serra. Até nisso, houve equilíbrio.
A candidata do PT Dilma Rousseff disse à equipe do “Jornal Nacional”, depois da entrevista, que se sentiu muito bem tratada e que a entrevista foi como deveria ter sido. Marina Silva e José Serra também fizeram comentários semelhantes.
O papel do jornalismo da TV Globo não é agradar a partidos nem a candidatos, sejam quais forem, mas tentar esclarecer questões importantes para que os eleitores possam decidir melhor.”
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