CARLOS HEITOR CONY
A questão não chega a ser política, mas religiosa, embora tudo na vida tenha seu lado político ou religioso. No século 21, é espantoso que um fundamentalismo desse tipo ainda seja exercido em nível estrutural de uma sociedade. Contudo, não se pode acrescentar o episódio ao saco de maldades do atual presidente iraniano, que se destaca como vilão da vez no panorama mundial.
Matar a mulher que comete adultério fazia parte da moral judaica muito antes de haver Irã e outros países islâmicos. Moisés antecedeu de alguns séculos o profeta Maomé.
Temos o conhecido episódio do Cristo com a adúltera. Os judeus levaram-lhe uma mulher que traíra o marido e quiseram saber se deviam apedrejá-la, como mandava a lei naquele tempo. A resposta ficou na história e entrou na linguagem comum do homem comum: Um samba gravado por Orlando Silva fez parte de antigo Carnaval e repete a mesma sentença.
"Quem nunca pecou atire a primeira pedra"
Quanto ao asilo que Lula ofereceu à pecadora, se de um lado revela a inesperada piedade do nosso presidente, de outro não deixa de ser uma intromissão num país ainda soberano, apesar das ameaças que o cercam.
Se fosse um assunto estritamente político, o asilo seria humanitário. Mas o problema é basicamente religioso, entranhado na cultura de sociedades fundamentalistas, como a do Irã.
Uma coisa é querer impor pelas armas e por invasões os princípios democráticos a países que vivem em ditaduras continuadas e nefastas. Outra é querer exportar uma cultura baseada em valores morais.
Lamenta-se e condena-se o episódio da iraniana pecadora, mas o castigo que lhe querem dar é selvagem e mais repugnante do que qualquer delito à lei de qualquer religião.
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