Por Flávio Gomes.
SÃO PAULO (18 graus, 20 no asfalto) – Bem, estando no autódromo, é evidente que não vejo, nem escuto, a transmissão de F-1 da Globo. Mas muitos blogueiros e tuiteiros peceberam e espalharam a notícia de que Galvão Bueno parou com aquela bobagem, que não é iniciativa sua, diga-se desde já, nem de ninguém que coloca a cara para bater na TV, de chamar a Red Bull de RBR, a Toro Rosso de STR e Virgin de VRT.
Eles seguem ordens. Essa sopa de letrinhas é uma questão comercial da emissora, que acha que não pode fazer propaganda de ninguém de graça, mesmo se o nome oficial da equipe for uma marca de um produto qualquer. Que se dane. A Globo simplesmente distorce a realidade ao sabor de seus interesses e princípios. Isso acontece há anos no vôlei e no basquete, por exemplo. Os times batizados por seus patrocinadores/financiadores são chamados pelos nomes de suas cidades. O Rexona vira Rio de Janeiro. A Pirelli vira Santo André. O BCN vira Osasco. É até meio ridículo.
E tem mais. No futebol, os pobres dos cinegrafistas são obrigados a fechar a câmera na cara dos jogadores e técnicos em closes obscenos, para não mostrarem as marcas estampadas nos painéis publicitários que ficam de fundo em entrevistas coletivas. Há até casos, muitos, em que apagam imagens com recursos de computador para que um logotipo não apareça. Lembro de uma exclusiva do Zidane à Globo — pô, o Zidane! — que teve o emblema da adidas na sua camiseta borrado eletronicamente.
Na F-1, a Red Bull nunca foi Red Bull na Globo. O argumento que sempre ouvi: Red Bull não é uma marca ligada a automóveis, como Honda, Toyota, Renault. OK, mas e a Benetton? Fazia carro ou camiseta? Argumento furado, pois. A questão era outra. E a patuscada se estendeu à pobre da Toro Rosso. E, depois, à Virgin. VRT? Putz, de onde tiraram esse T?
Aí, de uma hora para outra, acaba o veto. Ou será que Galvão se distraiu? Será que os repórteres também podem, finalmente, chamar as equipes pelos nomes que elas têm? O que teria levado a Globo a suspender sua farra de siglas para, finalmente, dar nome aos bois? Ou aos touros, no caso…
É claro que a Globo não tem obrigação nenhuma de expor em público suas opções comerciais. Mas, nesse caso, seus milhões de telespectadores merecem uma explicação. Aqueles que desde 2005 escutam na TV que o RBR de um é rápido e que o STR de outro é lerdo, precisam entender por que de um dia para o outro tais equipes desapareceram do mapa global. Uai, o Webber não era da RBR? Agora foi para a Red Bull? Que equipe é essa Toro Rosso? Virgin? Virgem Maria!
Eu tenho cá minhas desconfianças. A Red Bull do Brasil, por exemplo, ameaçou deixar a Stock Car depois da desclassificação de seus dois pilotos numa corrida em Campo Grande. Se sair, será um baque numa categoria que tem a Globo como parceira. A Sky, operadora de TV por assinatura que tem a Globo como uma de suas sócias, está anunciando nos carros de Webber e Vettel em Interlagos. A Red Bull é forte. E é claro que ninguém na empresa dos energéticos gosta de ser chamado de RBR. Ou de STR.
Enfim, o que motivou esse, digamos, “agrado” no GP do Brasil? Vai ser só neste fim de semana?
É, no mínimo, uma curiosidade legítima. Como eu disse, a Globo não precisa dar satisfações a ninguém sobre seus negócios. Mas quando eles interferem naquilo que seus telespectadores veem e ouvem, acho que seria de bom tom, sim.
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