Na crônica passada afirmei sem pestanejar: o Botafogo teria que ganhar do Atlético de Goiás como quem chupa uma laranja. Parecia que ia, a laranja quase já tinha virado o mais mucho dos bagaços quando o último caroço engasgou-nos, dificultando todo o processo de obtenção do suco cítrico. Não fosse o tapinha nas costas para desengasgar, mais conhecido como apito final do juiz, a laranja poderia apodrecer. Esse é o Botafogo, meus caros.
Jogar como quem chupa uma laranja é uma expressão do tricolor Nelson Rodrigues. Para falar do nosso ídolo que eu não vi, mas dizia o Nelson que "jogador é o Didi, que joga como quem chupa uma laranja". Alguma comparação como nosso elenco de hoje? Acho que não, o time é bom, mas para jogar bem assim se esforça como quem chupa um limão. Tudo que eu quero é que eles se engasguem na acidez!
Mas volto a usar o Nelson para explicar o "literatura(?)" colocado aí no título da coluna. Botafogo todo mundo é, opinião todo mundo tem. A literatura é só para constar que aqui o espaço é para sonhar. Não me importam tanto as formações táticas, os números (detesto-os) tudo isso é um pormenor da paixão. Meus caros, na vida o que importa é única e exclusivamente a paixão pelo Botafogo. Pelo menos enquanto você lê esta coluna.
Aqui, o Botafogo é favorito ao título. E se os comentaristas dizem que não, pior para os comentaristas, parafraseando o Rodrigues novamente. Aqui há espaço para o sonho, e o que vier além dele. Há de se rebaixar o fato e o que vier junto com ele.
Temos muitos representantes desse jeito literário de ser na imprensa oficial, e cada vez os mesmos deixam mais saudades. Além do tricolor Nelson Rodrigues, relembro João Saldanha, Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó, João Moreira Sales, e o Garrincha, que escrevia seus versos em campo, só para ficar nos botafoguenses. Recentemente, naquele texto do "El Loco no estaba acá" o jornalista Gustavo Poli deu traços que ainda há salvação entre aqueles que só vêem o fato. Um esplendor de texto.
Enfim, acabam-se as palavras, o recado está dado, e já que leram tanto, até aqui, não custa ler o supracitado Nelson Rodrigues.
"Quanto a mim, com satisfação o confesso: – acredito piamente em milagre. Ou por outra: – só acredito em milagre. A meu ver o fato normal, o fato lógico, o fato indiscutível merece apenas a nossa repulsa e o nosso descrédito. É preciso captar ou, melhor, extrair de cada acontecimento o que há, nele, de maravilhoso, de inverossímil e, numa palavra, de milagre. E não vejo como se possa viver e sobreviver sem esse milagre."
Botafogo x Avaí? Não me importa como nem porquê, temos é que vencer. Eu não quero saber quem é o defunto, eu quero é rezar.
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