Dilma se junta a outras 17 líderes na lista de mulheres no poder.
BBC Brasil
Ao assumir a Presidência do Brasil, em janeiro, Dilma Rousseff vai entrar para um restrito clube de líderes globais que tem, atualmente, 17 mulheres.
Ainda que cada uma dessas presidentes ou primeiras-ministras tenha chegado ao poder em circunstâncias distintas, especialistas ouvidas pela BBC Brasil traçaram paralelos entre elas. Também comentaram as dificuldades que as mulheres enfrentam no poder pelo mero fato de serem ainda poucas no panorama mundial.
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Segundo dados compilados pela entidade americana 50-50 by 2020, que defende a representação igualitária dos gêneros no poder, as 17 mulheres --Dilma ainda não incluída-- estão à frente de 16 países do mundo (a Finlândia tem uma presidente e uma primeira-ministra), de um total de 192 nações representadas na ONU.
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Segundo dados compilados pela entidade americana 50-50 by 2020, que defende a representação igualitária dos gêneros no poder, as 17 mulheres --Dilma ainda não incluída-- estão à frente de 16 países do mundo (a Finlândia tem uma presidente e uma primeira-ministra), de um total de 192 nações representadas na ONU.
"Fora dos países escandinavos, onde cerca de metade dos gabinetes já é formada por mulheres, há relativamente poucas delas em cargos eletivos", diz Wendy Stokes, autora de Women in Contemporary Politics.
Dessas 17 citadas, aliás, uma não foi eleita: Roza Otunbayeva assumiu o comando do Quirguistão após um golpe de Estado que depôs o presidente. Outras não são necessariamente as principais mandantes de seu país caso da Índia, onde Manmohan Singh ocupa o cargo mais importante, o de primeiro-ministro, e a presidente Pratibha Patil tem um posto cerimonial.
Força militar.
Segundo Charlotte Bunch, do Center for Women's Global Leadership, da universidade americana Rutgers, "as mulheres ainda vivem o desafio de mostrar que são fortes o suficiente em questões-chave, como o comando militar, em especial em países onde isso é particularmente relevante".
Para Bunch, isso é uma possível explicação para o fato de os Estados Unidos ainda não terem tido uma mulher na Presidência.
Mas são exceções significativas a Alemanha --comandada pela chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel, que mandou tropas para a Guerra do Afeganistão-- e o Chile, até poucos meses atrás presidido por Michelle Bachelet, que antes fora ministra da Defesa.
"Margaret Thatcher (primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990) e Indira Gandhi (primeira-ministra indiana entre 1966 e 1977 e 1980 e 1984) quase tinham que dizer 'sou um homem' (para obter respeito). Hoje, as mulheres começam a serem vistas como portadoras de ideias novas."
Mas Bunch observa que há outra maneira de encarar essa possível noção de fraqueza militar feminina.
Para a estudiosa, o mundo atual espera líderes mulheres que "sejam capazes de mostrar que podem usar a força, mas somente como último recurso". Em geral, diz Bunch, elas têm sido eleitas para "colocar ênfase na paz, para unir (o país) quando tudo desmorona".
Esse foi o caso da liberiana Ellen Johnson Sirleaf, eleita em 2005 para comandar um país devastado após uma ditadura e uma sangrenta guerra civil.
Sirleaf, a primeira presidente mulher eleita na África, restaurou a credibilidade da Libéria perante a comunidade internacional e é citada pelas especialistas ouvidas pela BBC Brasil como um exemplo a ser seguido por Dilma.
"Ela foi decisiva para reconstruir seu país após a guerra", diz Yvonne Galligan, do Center for Advancement for Women in Politics, da Queen's University, em Belfast. "Assim como Bachelet, virou um símbolo de unidade para seu povo."
Estereótipos.
Segundo as analistas, não é um estereótipo afirmar que as mulheres no poder dão atenção a temas diferentes - em geral sociais - em comparação com seus pares masculinos.
Em seu livro, Stokes cita levantamentos feitos no Poder Legislativo americano que indicam que as representantes, independentemente de sua filiação partidária, tendem a apoiar mais agendas liberais.
Na Índia, parlamentares mulheres costumavam apoiar mais fortemente políticas de educação, saúde, higiene e controle de bebidas alcoólicas.
Ao mesmo tempo, elas não escapam de serem julgadas, sob os olhos da opinião pública, por outro estereótipo: o da vaidade.
"Na vida pública, as mulheres não têm como vencer quando o assunto é aparência", opina Galligan. "Elas costumam ser criticadas tanto se cuidam demasiado de sua imagem como se têm uma aparência ruim."
"Em geral, ninguém comenta se um político homem está gastando muito com maquiagem. E, para aparecer em público, eles também usam muita maquiagem", acrescenta.
Patronos políticos.
Na lista de poderosas, Dilma estará acompanhada de líderes de países do G20 --as 20 maiores economias do mundo-- como Merkel, a presidente argentina, Cristina Kirchner, e a primeira premiê da história da Austrália, Julia Gillard.
Também estão na lista diversas líderes asiáticas, algumas delas, seguindo uma tradição oriental, oriundas de famílias importantes que as alçaram à política.
No Ocidente, essa tradição familiar não é tão forte. Mas, enquanto Cristina ascendeu na política na esteira da carreira de seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, Dilma se tornou candidata após a bênção de Luiz Inácio Lula da Silva, que esforçou-se para transferir sua popularidade à ex-ministra.
Galligan, no entanto, relativiza a importância do patronato no caso brasileiro: "Dilma foi promovida por Lula, mas ela construiu sua própria carreira política", diz.
E, independentemente disso, ou de Dilma personificar ou não a mulher brasileira, as analistas veem sua chegada ao poder como mais um fator para despertar a atenção mundial para o Brasil.
"Em geral, é algo visto como progressista", avalia Stokes. "A eleição de uma mulher é tida como um marco positivo de democratização."
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