segunda-feira, 12 de julho de 2010

TIRA A MÃO DO MEU BOLSO

MARIA INÊS DOLCI .
A Copa de 2014 já começou.
Teremos de colocar em campo, já, planejamento, fiscalização criteriosa de recursos públicos.
A COPA do Mundo da África do Sul terminou ontem. Rei morto, rei posto. No momento, todos discutem a mudança de treinador, o temperamento de Felipe Melo, a teimosia de Dunga, que não levou jovens craques à Copa de 2010.
Assim como dentro do gramado, em relação à nossa seleção e times de futebol, todos esperam muito de nós como organizadores da Copa de 2014.
Afinal, somos o "B" do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Crescemos, por algum tempo, em níveis chineses. Passamos pela crise do final de 2008 e do primeiro semestre de 2009 sem a atração do poço que puxou outros países, inclusive os desenvolvidos.
Mas, sinceramente, deveremos melhorar muito para dar conta do recado. Nossos serviços são péssimos. Nossa infraestrutura não suporta crescimento acima de 4% ao ano. Somos majoritariamente monoglotas. E obras públicas, por aqui, costumam multiplicar custos para fazer menos do que foi orçado.
Não podemos fracassar. Seria uma sinalização de que ainda não fazemos parte do clube dos países mais importantes. Para isso, teremos de solucionar, de alguma maneira, em menos de quatros anos -sim, a Copa será realizada a partir de junho de 2014 e já estamos em julho- problemas como o trânsito caótico nas maiores cidades brasileiras, sedes de jogos.
São Paulo, nossa maior cidade, para literalmente com uma hora de chuva forte. Como transportar milhares de turistas em dias de semana, se houver jogos por aqui? Nossos estádios até que não são dos piores, mas devem ficar mais seguros, mais confortáveis e acessíveis. Isso custa caro. Demanda tempo e projetos. E ainda nem decidiram onde ocorrerão os jogos em São Paulo.
O Estatuto do Torcedor é muito legal, mas vive dentro do papel. Segurança é uma dor de cabeça permanente. Ninguém viaja milhares de quilômetros para ser roubado e sofrer ameaças ou algo pior. Os serviços de informação, de segurança, de transporte deveriam ser bilíngues. Não são. Lembrem-se de que, na África do Sul, o inglês é a língua comercial. Há necessidade de oferecer, ao menos nos hotéis, restaurantes, estádios e meios de transporte, inglês e espanhol, no mínimo.
Aliás, outros idiomas também são fundamentais na área de saúde -como se consultar sem entender o que o médico fala?- e na segurança pública -delegacias bi ou trilíngues.
Nossos aeroportos não passam nos testes de feriadões como os de Natal e Ano Novo. Como suportarão
muito mais gente, sem filas absurdas nem atrasos em voos? Será que continuarão perdendo malas e não dando satisfação aos passageiros, como fizeram comigo, recentemente, TAM e British Airways?
Quais as condições de nossas praças, praias, museus e outros pontos turísticos? Estão limpos, bem cuidados, sinalizados, ou servem de banheiro público? Pois é, todos sabemos a resposta. Não há sequer um trem-bala ligando as megalópoles de São Paulo e Rio. E o metrô, nosso melhor meio de transporte, está superutilizado.
Quem duvidar tente ingressar no trem na estação Sé, em São Paulo, em qualquer horário. Desta vez, não se trata somente de ter a melhor seleção. Teremos de colocar em campo, já, planejamento, fiscalização criteriosa e transparente de recursos públicos, com um cronograma rígido de obras. E ação, muita ação.
Algumas das sedes de jogos terão de investir em hotéis cinco estrelas e em bons restaurantes, entre outros serviços. Outras, como já sublinhamos, em segurança e transporte. Todas, em treinamento dos prestadores de serviços. Sem esquecer que, dois anos depois, em 2016, sediaremos a Olimpíada do Rio de Janeiro. Parece muito tempo, mas não é.
Exprimo minha preocupação porque ainda não vi nada em movimento. E porque o consumidor brasileiro é muito desrespeitado. Receberemos, intensivamente, consumidores de dezenas de nacionalidades, muitos deles acostumados a um tratamento de alto nível. É essa Copa, também, que teremos de vencer.

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