JOSÉ GERALDO COUTO
Minha Copa pessoal tem goleadas alemãs, drama de Uruguai x Gana e pouco mais que isso.
PARABÉNS PARA a Espanha, que teve momentos de "jogo bonito" e enfrentou com brio as botinadas holandesas, mas essa final foi a cara da Copa do Mundo da África do Sul: jogo truncado, futebol escasso, arbitragem ruim. A Holanda chegou à final com um dos times mais opacos e sem imaginação que já vestiram a linda camisa laranja. A Espanha, que brilhou na Eurocopa de 2008, jogou para o gasto e mereceu vencer.
Jogo por jogo, a disputa de terceiro lugar, anteontem, entre Alemanha e Uruguai, deu de dez na final. Não só pelo número de gols mas também pela ousadia e gana ofensiva dos dois times.
Numa Copa em que a maioria dos astros decepcionou, foi merecido o prêmio da Fifa ao uruguaio Diego Forlán, que aliou valentia, técnica e atrevimento do primeiro ao último minuto em campo.
O gol de Iniesta, que definiu o campeão em arremate com força e raiva, foi quase negação do que o próprio Iniesta e seus companheiros fizeram na Copa: muito toque de bola, muito preciosismo e pouca contundência. Preliminares sem penetração, como alguém já disse. Tudo somado, foi uma Copa dos excessos: excesso de visibilidade (câmeras em todos os cantos), de mídia, de publicidade, de ruído (malditas vuvuzelas). O que faltou, a bem da verdade, foi futebol. Nenhuma seleção convenceu de cabo a rabo. Poucos jogadores se destacaram individualmente. Raras partidas encantaram os espectadores.
O que fica desse imenso carrossel, desse parque globalizado de diversões?
Cada um levará consigo uma Copa, ou a lembrança dela. A minha Copa pessoal de 2010 tem duas vitórias arrasadoras da Alemanha (sobre a Inglaterra e a Argentina), que tive o privilégio de presenciar ao vivo, mas tem sobretudo dois jogos de dramaticidade ímpar: Uruguai x Gana e Espanha x Paraguai. Os poucos minutos que se sucederam ao pênalti cometido pelo uruguaio Suárez, ao defender com a mão em cima da linha aquele que seria o gol da classificação de Gana, valem por uma tragédia grega, por um romance de queda e redenção humana.
Pois, no fundo de tudo, por trás da saturação de imagens, logotipos, orçamentos megalômanos, multidões em frenesi, está o homem, com sua grandeza e miséria, sua pequenez e sua glória.
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