quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Belo exemplo dos mais humildes
Editorial, Jornal do Brasil
A pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), divulgada na edição de ontem deste JB, tem vários dados animadores. Mas há uma informação que, de certo modo, vale mais do que as outras – e nem sequer pode ser medida em números: a solidariedade dos brasileiros mais humildes é gigantesca, um verdadeiro exemplo para as gerações futuras, uma lição para os mais abastados e para deixar com vergonha os gananciosos que roubam os cofres públicos sem um pingo de remorso.
A pesquisa mostra o impacto do programa Bolsa Família na vida de quem a ele tem direito. As 11.433 famílias ouvidas pelo MDS falaram sobre o que deveria ser feito se houvesse mais recursos para o programa. E nada menos que 78% cravaram que mais gente deveria passar a receber o benefício – enquanto as 22% restantes caíram no egocentrismo que se vê, por exemplo, na política (onde deputados votam aumentos a seus já polpudos proventos sem a menor cerimônia) – além de terem sugerido que o valor que recebem fosse maior. Seria até compreensível que a maioria, que nunca teve quase nada, se deixasse embalar pela nova fase da vida e sonhasse com mais. Essa maioria pode ter perdido muitas outras coisas, mas não a noção de cidadania – e propõe a divisão dos “pães”.
É um resultado que deveria ser difundido, inclusive, nas escolas. Mostra que conceitos básicos como solidariedade, simplicidade, honestidade (que nas campanhas políticas surpreendentemente virou item do currículo dos candidatos) ainda existem.
O diagnóstico dado pelo secretário-executivo do Ministério, Rômulo Paes, define bem a questão: “Como essas pessoas estão satisfeitas, gostariam de ver isso compartilhado com a sua rede social”. O conceito é tão preciso que vale também para a classe política, que sempre mostra muito empenho em manter as regalias que a deixam satisfeita, que compartilham a benevolência da “viúva” e se lixam para as outras redes sociais – exceções à parte, registre-se.
Mas também em quesitos que podem ser quantificados a pesquisa mostra que o Bolsa Família está acabando com os argumentos de seus críticos. Mais de 95% das crianças entre 7 e 14 anos, dentre os beneficiados, estão matriculadas na escola. Há um melhor aproveitamento do calendário de vacinas das crianças entre os que integram famílias que recebem o auxílio. Até em casos específicos como amamentação de bebês (exclusivamente com leite materno), a quantidade é maior entre mães beneficiadas, num total de 62%.
O Bolsa Família não é um programa perfeito, longe disso. Mas não há dúvidas de que inseriu milhares de brasileiros no grupo de consumidores, e deu-lhes as bases para, pelo menos, sonhar com uma vida digna. O próximo presidente do Brasil não pode deixar que se perca essa conquista, e tem a obrigação de avançar mais.

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