Façam o que eu digo e esqueçam o que faço
Villas-Bôas Corrêa, Jornal do Brasil
O presidente Lula acaba de bater todos os seus recordes de caradurismo nas duas últimas semanas, quando decidiu passar um pito nos ministros que descuidam das suas obrigações e exigiu que reajam com dobrada veemência aos ataques da oposição ao governo na campanha, com especial atenção nos debates e entrevistas na propaganda eleitoral gratuita em rede nacional de rádio e televisão.
Ora, não há registro na história deste país de um presidente mais relapso nos seus deveres. Para começo de conversa, não lê nem despacha processos, com o horror pelos livros e por qualquer rabisco. Quando lê algum discurso, escrito pelos assessores, o texto em letras garrafais obriga a troca de páginas a cada parágrafo. No gabinete, em Brasília, recebe visitas e assina papéis sem ler, confiando na ex-ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, sua candidata. E, como adora um bom papo e é um conversador desembaraçado e de bom humor, não faltam ouvintes do cordão que cada vez aumenta mais.
Nenhum presidente viajou tanto, seja nos voos domésticos para as visitas demagógicas às obras ou nos giros internacionais da sua prioridade como aspirante à liderança mundial. E, de fato, é dos líderes mais populares nos cinco continentes. A maioria das suas viagens com todos os requintes de conforto, seja como hóspede dos visitados ou nos apartamentos de luxo dos melhores hotéis de cinco estrelas do mundo.
Pois, na toada marota do faça o que eu digo e esqueçam o que faço, o presidente, na terceira reunião ministerial do ano, recomendou aos ministros que arregacem as mangas e se empenhem nas tarefas das suas áreas. O conselheiro bissexto advertiu os ministros e secretários para a ofensiva da oposição que tentará “desconstruir” o seu governo. Enfatizou que não aceitará nenhuma falha que facilite um ataque da oposição que atinja a campanha da sua candidata. O pito atingiu em cheio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se omitiu na recente crise aérea, com aeroportos superlotados e a bagunça dos cancelamentos e atrasos de voos.
Abrandou o tom no morde-e-sopra. O governo deve responder a todos os ataques que atinjam a candidata Dilma. A candidata tem que cuidar da sua campanha. E foi enfático: “Nunca perguntei a algum ministro se tinha candidato. E vocês sabem que eu tenho candidata. Mas, o que eu quero é que os ministros defendam o governo”.
E o escândalo da gastança com os cartões corporativos? Pelo visto, não se fala mais num assunto delicado e inexplicável.
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