Foi numa procissão em louvou à padroeira que eles se conheceram. Ela com apenas 14 anos de idade e o missionário, recém chegado da Itália, com 23. Foi um encontro lindo, arrebatador. O padre fora designado para a pequena paróquia do Vale do Jequitinhonha. A garota morava a cerca de 50 km de distância, numa localidade próxima. Não tardou e passaram a manter um romance secreto. A mãe da menina, viúva, beata e ceramista, fazia vistas grossas. Criava a filha caçula e a irmã mais velha, com a ajuda da avó. O marido, caminhoneiro, tinha morrido ao volante, num acidente horroroso. Não passaram muitos meses e a garota engravidou. Assim que a notícia correu, o padre foi transferido para outra diocese bem distante, destino que o bispo se recusava a revelar. A gravidez foi de risco. É como se no ventre a garota fizesse crescer tudo aquilo que quisera ser. No oitavo mês a bolsa estourou. Para não perder o bebê, a menina foi levada até a capital, onde veio a falecer. À pequena sobrevivende, alva e dos olhos bem verdes, deram o nome de Santa. Abençoada, cresceu sob o manto sagrado da igreja. Não havia necessidade da família que o bispo deixasse de atender. Bastava apenas uma solicitação e logo o mensageiro trazia o envelope com o dinheiro do dízimo, desviado para nobres fins. O pacto de silêncio incluia a irmã da morta, a mãe e a avó. Santa cresceu com conforto. Nunca entendeu o papel do bispo, nem nunca teve curiosidade de saber quem era seu pai. A tia virou funcionária pública e durante muitos anos foi confidente fiel e amante do prefeito da localidade. E foi graças a ela que Santa conseguiu prosserguir no Rio os estudos em Comunicação Social. (continua)
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