terça-feira, 2 de novembro de 2010

PARA O POVO OU COM O POVO?

Por Carlos Chagas
Do primeiro pronunciamento de Dilma Rousseff depois de eleita fica uma dúvida: ela enfatizou  o sentido republicano e o compromisso democrático de sua eleição,  mas  ressaltou estar disposta a governar para todos.
Atenção na declaração: para todos,  não com todos.  Há uma diferença sutil que tanto os aliados quanto as oposições  começavam ontem mesmo a analisar.  Não que o PSDB, o DEM e penduricalhos esperassem  alguma participação no novo governo, sequer através de propostas e sugestões. Sabem estar naturalmente excluídos do poder nos próximos quatro anos, como nos últimos oito.
O problema aparece para o PMDB e demais partidos que se empenharam pela vitória da candidata. E até para alguns companheiros. A preposição  não admite discussões. Muita gente vai ficar de fora, como a partícula comprova. Ainda que todos os cidadãos  possam vir  a ser beneficiados pelos planos e programas da nova administração, conforme as boas intenções da presidente eleita, apenas alguns participarão da obra de governo.
Passa-se de imediato da teoria à prática. O PMDB não tem certeza de manter os seis ministérios que ocupa no governo Lula. Muito menos as centenas de diretorias de empresas estatais ou da administração direta. A tolerância do presidente Lula para com seus aliados poderá não se constituir na característica da sucessora,  inclusive porque falou duro quanto se referiu à meritocracia para o exercício das funções públicas, pautando as nomeações.
Michel Temer que se cuide, apesar de duas vezes citado  no discurso inicial de Dilma. Já  tendo sido gentilmente escanteado na campanha, nada indica que poderá entrar no gabinete presidencial com uma lista de peemedebistas propostos  para  ministérios e adjacências. Assim também o monte de papagaios de pirata flagrados atrás da nova presidente em suas primeiras horas de aparição vitoriosa.
Uma dedução pode ser tirada para os tempos que se aproximam: em muito difere do Lula a primeira mulher a exercer a chefia do Executivo. O país verá aposentadas as tiradas de humor duvidoso e de comparações futebolísticas em troca de raciocínios e de iniciativas diretas e ásperas.  A complacência cederá lugar à cobrança.

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