sábado, 28 de agosto de 2010

AGORA NÃO VAI DAR

Por Carlos Chagas
Uma característica do processo político brasileiro é de que, como regra, todo presidente chega ao poder culpando o antecessor pelas dificuldades encontradas. Criticar o passado constitui saída fácil para quem se mostra em dificuldades para enfrentar o futuro. Há exceções, como no caso de Juscelino Kubitschek, mas é bom lembrar que Getúlio Vargas assumiu jogando farpas em Eurico Dutra. Depois, Café Filho prometeu exorcizar a era Vargas. Aliás, foi o primeiro mas não o último. Jânio Quadros disse o diabo de Juscelino, ainda que estrategicamente pelo rádio, sabendo que levaria um soco na cara se discursasse de corpo presente. João Goulart mandou rever a política econômica e social de Jânio, a quem acusava de desequilibrado.
Dos militares, é bom lembrar que o marechal Castello Branco escreveu ao filho dizendo-se síndico de uma massa falida. Costa e Silva, ao prometer humanizar o governo, atingiu Castello na moleira, ao tempo em que Garrastazu Médici meteu a faca na metade do governo Costa e Silva. Ernesto Geisel referia-se na intimidade de forma pejorativa aos tempos do “milagre brasileiro” de Médici, enquanto João Figueiredo deu o gelo em Geisel.
Com a democratização, mesmo cauteloso enquanto candidato, Tancredo Neves apelidava certos juristas do período militar de “jurilas”, metade gorilas. José Sarney não sossegou até reformar o ministério escolhido por Tancredo e foi ofendido por Fernando Collor, a ponto deste anunciar que mandaria prender aquele. Itamar Franco isolou completamente Fernando Collor, a quem acusava de pecar contra os dez mandamentos. Fernando Henrique, mesmo eleito por obra e graça de Itamar, jamais perdeu uma oportunidade de expô-lo ao ridículo. E quanto ao Lula, por longo tempo lembrou a “herança maldita” recebida do sociólogo.
Essas lembranças vem à tona por conta da impossibilidade técnica de Dilma Rousseff fazer o mesmo diante do antecessor. Ou não?

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