quinta-feira, 26 de agosto de 2010

FRENTE MAIS DO QUE NECESSÁRIA

Editorial, Jornal do Brasil
Demorou, mas como diz a sabedoria popular, antes tarde do que nunca. É alentadora a informação que rendeu manchete na edição de ontem deste JB que seis empresas privadas e a Confederação Brasileira de Futebol estão montando com o governo do estado e a Secretaria de Segurança Pública do Rio uma frente ampla em defesa da cidade.
Não é por acaso que o objetivo da tal frente não tenha incluído a palavra violência e a sigla UPP, como fez questão de enfatizar boa parte da mídia. As Unidades de Polícia Pacificadora serão a parte visível do investimento. Mas muito mais do que repressão policial, o que esse mutirão – que custará algo em torno de R$ 23 milhões anuais – vai gerar, ou pelo menos espera-se que gere, é uma vida melhor nas comunidades onde elas serão instaladas, com mais dignidade, respeito, presença do estado para prover e organizar.
Esse é o único tipo de repressão à bandidagem que as UPPs devem trazer, sem que se precise usar uma arma de fogo sequer, resultado de uma ação que some investimento com inteligência.
Alguns puristas já saíram batendo no acordo, argumentando que segurança é função do estado, e que a população (física ou jurídica) paga impostos altíssimos para ter de depender das benesses ou da boa vontade da iniciativa privada.
Há, de fato, uma parcela de verdade nisso. Com a carga de impostos que se paga no Brasil – uma das mais altas do planeta – tanto segurança quanto saúde, educação e transporte deveriam estar em nível de Primeiro Mundo – e não estão. Além disso, quando se recorre à iniciativa privada numa escala dessas, sempre há a famosa pulga atrás da orelha indagando se haverá uma contrapartida, se terão prioridade as UPPs das comunidades vizinhas à sede das empresas ou à residência dos executivos de tais empresas.
Comete um erro quem se aferra a tais preocupações – e não entra aqui qualquer julgamento se há ou não fundamento nessas dúvidas. A questão é que o problema da segurança é de tal ordem emergencial que atropela qualquer questionamento dessa natureza. É como quando somos vítimas de uma catástrofe natural, como as infelizmente comuns enchentes. Já foram flagradas pessoas roubando alimentos doados a flagelados. Mas nem por isso se pode deixar de doar quando vem uma nova catástrofe. As UPPs estão dando tão certo – é quase de domínio público que os traficantes estão ficando acuados e entrincheirados nas favelas aonde elas não chegaram – que todo dinheiro de origem conhecida, registrada, pública, é bem-vinda.
À Copa do Mundo e à Olimpíada devemos agradecer apenas pela urgência que deram à solução dos problemas de segurança pública nas comunidades mais humildes. Mas o legado das UPPs será muito maior do que apenas duas grandes competições esportivas

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