sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PARA NÃO SE AFOGAR NOS NÚMEROS

Editorial, Jornal do Brasil
A cada nova pesquisa divulgada aumenta a diferença de percentual de possíveis votos para a candidata petista, Dilma Rousseff, em relação ao segundo colocado, o tucano José Serra. A variedade de institutos e a semelhança nos números é um forte indicador de que há correção em todas elas. Ou seja, um indicador de que são muito grandes as possibilidades de Dilma ser eleita sucessora do presidente Lula ainda no primeiro turno.
Se há algum fato positivo nisso, ele aparece se formos puxando o novelo: Dilma ganha no primeiro turno, se ganha com essa expressividade é porque a maioria da população está satisfeita com a situação do país – leia-se, com o presidente Lula. E, se a maioria da população está satisfeita, atingimos uma situação desejável.
Os seguidores de José Serra juntam-se aos que ainda enxergam fantasmas absolutistas pelas esquinas para lembrar quão saudável é a alternância de poder. Sem dúvida que é positiva. Desde que faça a vontade do povo, desde que seja nas urnas. Mudar o que está bom só por mudar, se não há uma clara perspectiva de efetivamente melhorar, é uma tese pouco sólida.
O link agora é justamente com possíveis riscos de uma vitória por demais acachapante no primeiro turno. Eles só vão se materializar se Dilma Rousseff se afogar nos números e achar que o povo está lhe conferindo algum tipo de poder divino, que o número de votos é um salvo-conduto para fazer o que bem entender no poder, certo ou errado.
Dilma precisará, se forem confirmadas as tendências atuais, ter sempre em mente que não é Lula. Dificilmente ela sairia incólume, como saiu o atual presidente, de uma crise como a do mensalão. Ou de uma perigosa aproximação com lideranças como Mahmoud Ahmadinejad ou Hugo Chávez. Ela pode até aconselhar-se com o antecessor – é até desejável que o faça. Mas atitudes erradas, polêmicas, perigosas podem valer para Lula, mas custarão caríssimo a Dilma.
A responsabilidade da candidata petista aumenta quando se sabe que ela jamais havia concorrido para um cargo eletivo. Uma vitória dessa grandeza pode, se ela não estiver muitíssimo bem assessorada, tornar-se um mico. Lula teve, entre outros méritos, o de não deixar as alas radicais do PT tomarem conta do governo. Ninguém se atreveu a enfrentá-lo. Terão esses grupos a mesma cautela com Dilma? Difícil...
Dilma tem sobre os ombros ainda uma responsabilidade a mais em relação ao futuro petista. Parece claro a todos que uma nova candidatura Lula para 2014 seria natural. Se o próximo governo não fizer bobagens, tem tudo para manter o PT no poder. Mas, se a era Dilma for de ruim para baixo, a oposição terá forte material para lembrar que “foi o Lula que a colocou lá”.
Mas tudo isso só vai acontecer se as urnas repetirem as pesquisas.

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