sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PORQUE SERRA COMEÇOU A CAIR

Por Carlos Chagas
Ainda não é hora para exegeses ou, muito menos, para recriminações. Fica claro, no entanto, que continuando as coisas como vão, Dilma Rousseff deverá eleger-se em 3 de outubro. As perguntas empurradas para mais tarde, mas já com respostas esboçadas, referem-se ao momento em que as previsões sucessórias começaram a mudar. Quando? Por que?
Durante muitos meses as pesquisas mostravam José Serra como vencedor. Uma evidência a mais da fragilidade dessas consultas populares ou de que as tendências do eleitorado costumam ser volúveis. Mesmo assim, há espaço para interpretações.
Parece óbvio que Dilma cresceu por conta da alta exposição do presidente Lula no processo. Lançando-se de corpo e alma na propaganda da candidata por ele criada, o primeiro-companheiro reafirmou sua popularidade, conseguindo transferi-la para a criatura.
Mas teve mais. No reverso da medalha, José Serra começou a cair quando perdeu semanas preciosas na tentativa de fazer de Aécio Neves seu candidato a vice, mesmo depois da decisão inflexível do então governador de Minas de disputar o Senado. O candidato do PSDB demonstrou indecisão e, mais ainda, submissão ao DEM, cujo tamanho não justificava as pretensões de exigir a indicação do companheiro de chapa. Não teria para onde ir, o antigo PFL. O desgaste ficou óbvio, em especial quando surgiu o nome de outro tucano de respeito, o senador Álvaro Dias, do Paraná. Se feito candidato, ele agregaria não apenas votos e percentuais, mas respeito.
Seguiu-se uma trapalhada dos diabos, com Álvaro Dias dando sua concordância pela manhã e sendo atropelado à tarde por gesto temerário do presidente do DEM, Rodrigo Maia. Ficou pior quando o pequeno partido impôs o nome de um ilustre desconhecido, o deputado Índio da Costa, do Rio, que José Serra aceitou sem ao menos ponderar ou protestar. Mas teve mais: em suas primeiras aparições, o figurado silvícola meteu os pés pelas mãos, acusando o PT de ligações com o narcotráfico. Serra saiu em seu socorro, lambuzando ainda mais a equação.
Pode parecer estranho, mas o eleitorado vinha tomando conhecimento de tudo, passando, nas pesquisas, tanto quanto aderir a Dilma, rejeitar Serra. Acresce o monumental aparato promocional da candidata, o empenho cada vez maior do presidente Lula em seu favor e, last but not least, a falta de mensagens poderosas e contundentes por parte do candidato da oposição. Resultado: a diferença entre eles é de dezoito pontos percentuais, fazendo prever a decisão ainda no primeiro turno. Na teoria, sempre será possível uma inversão de tendências. Na prática, nem tanto...

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