Editorial, Jornal do Brasil
O primeiro debate entre os candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, promovido quinta-feira pela Rede Bandeirantes, deu um alento aos já desesperançados brasileiros que clamavam por uma campanha em alto nível. Até o dia 3 de outubro a situação ainda pode mudar, não dá ainda para soltar foguetes. Mas se for mantida a postura dos três principais postulantes ao cargo, será a prova de que é possível fazer uma campanha propositiva, de ideias, sem apelar para baixarias ou ofensas gratuitas.
Alguns sites divulgaram ao longo do dia de ontem que a audiência do debate foi pequena, algo em torno de três pontos. Alguns “analistas” apressados chegaram a comentar que o programa não teve muita assistência exatamente porque foi “morno”, não houve ataques, foi pautado pela polidez.
A análise começa errada na medida em que não cita que, no mesmo horário do debate, era transmitida pela emissora mais poderosa do país, para os quatro cantos brasileiros, uma empolgante partida de futebol, que valia vaga para a final da Taça Libertadores da América (e para o Mundial Interclubes), entre dois dos melhores times da praça, o São Paulo e o Internacional.
Além disso, imaginemos apenas para argumentação que a causa da suposta baixa audiência tenha sido o tom cordial que balizou os discursos de Dilma Rousseff, José Serra e Marina. E daí? Que importa ao país a audiência de uma emissora? Para quem gosta de violência ou baixaria, não faltam opções, infelizmente, na nossa programação diária.
Quem dera que todos os candidatos que vão participar da eleição tivessem a postura dos presidenciáveis assim como a ficha limpa deles. O curioso da repercussão do debate é que a sociedade passou anos, desde a eleição de 1989, pedindo ética, criticando as baixarias e o bate-boca dos debates. Quando, enfim, aparece uma trinca que, em vez de atacar os concorrentes, discute ideias, projetos, propostas –a despeito de serem boas, factíveis ou não– aí são criticados. É mesmo muito difícil agradar a todos. Justiça se faça ao diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre, que logo em seguida ao término do debate exaltou o fair play dos políticos, e qualificou o encontro como “um marco”, naquilo que sempre esperaram de um debate os que pensam apenas no bom futuro do país e não em fofocas.
Destoou um pouco dessa postura o candidato do PSOL, Plínio Arruda Sampaio, que procurou sempre desqualificar os três outros candidatos. Mas, mesmo ele, foi light, mais engraçado do que agressivo. Suas intervenções serviram apenas para reforçar a característica combativa e idealista de seu partido. Não chegou a configurar uma baixaria. Foi, no máximo, um contraponto.
Que a civilidade de Dilma, Serra, Marina e, vá lá, Plínio sirva de lição e exemplo para a enxurrada de propagandas e debates que vêm por aí.
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