quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NA HORA DO VOTO, VALE-TUDO

Editorial, Jornal do Brasil
A sessão de quarta-feira no Senado permitirá ao eleitor tirar muitas conclusões interessantes. A primeira é a de que, mais uma vez, a necessidade de votar nas eleições de outubro sempre é sobrepujada pelos interesses daqueles que se encastelam nos cargos para os quais são indicados. A aprovação de um pacote de 10 mil cargos, de uma só vez, ainda que o texto preveja a contratação só a partir de 2011, merece críticas. O tempo e a hora parecem errados para se anunciar uma medida cujo maior efeito, e o mais concreto, é o de adoçar bocas capazes de angariar votos e sustentar campanhas de eleição ou recondução ao mandato. O impacto de mais de R$ 700 milhões nas contas do Ministério Público da União pareceu menos relevante do que apresentar a esse eleitorado com forte capacidade de união política um benefício atraente em um momento crucial.
O país está, em termos das discussões mais relevantes no Congresso, literalmente parado desde o início da Copa do Mundo, que emendou com as festas juninas, que por sua vez entrou pelo recesso, que afinal ficou amarrado com o início da campanha eleitoral nos estados. Aqui e ali, candidatos a cargos federais só estão pensando em usar os artifícios do mandato para poder ou ampliar sua permanência ou mudar de status. O que dizer, em termos de importância comparativa, da aprovação-relâmpago da aposentadoria para repentistas e cordelistas, um projeto de interesse tão regional que não consegue escapar do rol de excentricidades geradas pela Casa? Diante de temas como reformas políticas, das leis penais, da atualização tributária, é perda de tempo dedicar sessões em época tão estratégica a temas pouco oportunos do ponto de vista nacional.
Os senadores tinham de correr para votar tudo o que estava na agenda porque estão liberados pela direção da Casa a fazer campanha eleitoras em suas respectivas bases. Embora sejam servidores a serviço do Estado e do povo a que representam, utilizam todos os expedientes possíveis para um fim particular em detrimento das grandes causas da nação. Dos 81 senadores, cerca de 49 vão disputar mandatos no pleito que se avizinha. O prazo não era curto apenas para avaliar o que realmente importa ao país -e não as questões paroquiais da política miúda- mas em função da necessidade premente de os ilustres parlamentares aproveitarem a ocasião para gravar programas para o horário eleitoral gratuito.
A vida legislativa no país é relativamente pouco produtiva, isso é uma verdade. Quando não se perde tempo em discussões infrutíferas e inócuas como a aposentadoria dos repentistas, os corredores, gabinetes e plenários vazios deixam claro que se trata de uma opção pela carreira pessoal, e não por um objetivo cívico acima das veleidades regionais. É como se todas as partes somadas –a representação do país múltiplo– vistas de perto, não se mostrassem unidas a não ser por laços de interesse comum aos próprios parlamentares.

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