sábado, 7 de agosto de 2010

PLÍNIO, O VINGADOR DO PASSADO

VINICIUS TORRES FREIRE.
Plínio de Arruda Sampaio ironiza eleição plastificada, vinga tédio do eleitor e faz o socialismo pegar o aerotrem.
PLÍNIO, O Velho, animou o quase clandestino, constrangedor e no mais chatíssimo primeiro debate entre os candidatos a presidente, na TV Band. Plínio de Arruda Sampaio, 80, do PSOL, foi uma sensação entre gente internética e aquela minoria que ainda acompanha eleições de perto, uma parte daquelas pessoas ditas "formadoras de opinião". Isto é, formam a opinião uns dos outros.
Plínio parece ter vingado parcela desse eleitorado, comprometido com os candidatos principais ou sem opções, mas ressentido com a plastificação final das campanhas a presidente, mais profissionais do que nunca nesta eleição e, portanto, despolitizadas e vazias.
Um homem respeitável, na noite de quinta Plínio, no entanto, parecia encarnar uma personagem entre o professor aloprado e o tio maluco do almoço familiar. Em parte o fez com ironia proposital. Em parte.
Plínio acredita mesmo em coisas como socialismo, insurreição camponesa e "tenebrosas transações" do Império contra o Brasil. Além do mais, a personagem escapou do controle do autor. O socialismo embarcou no aerotrem, o símbolo de campanha de um folclórico e paradigmático candidato nanico, Levy Fidélix. Plínio encarnou algo como o "voto de protesto" de muito "formador de opinião" que viu o debate. Fidélix não caberia nesse papel de vingador, a não ser para niilistas anárquicos juvenis de mau gosto.
Mais divertido, Plínio é a memória ideológica viva do que foram José Serra e Dilma Rousseff, PSDB e PT.
Foi da democracia cristã de Franco Montoro (1916-1999), governador de São Paulo que deu a Serra seu primeiro cargo relevante, secretário de Planejamento e "premiê estadual", em 1983. Foi da esquerda católica, na qual Serra também esteve nos anos 1960. No governo de João Goulart (1961-64), pregou e planejou a reforma agrária "radical", uma das razões do golpe de 1964.
Foi perseguido e exilado da primeira leva. No MDB ainda frente de oposição, fez campanha para FHC, eleito suplente de senador em 1978. Rachou com os emedebistas "tucanos", avessos ao esquerdismo, e foi um dos fundadores do PT. Foi ainda um dos idealizadores dos núcleos populares de base do partido. Etc.
Plínio é o Vingador do Passado, dos incomodados com a política de agora, mas desafetos também das alternativas de outrora e sem ideia do que poderia ser novo. Para os "formadores de opinião" que divertiu, Plínio foi um momento de fantasia aceitável, o minuto de chutar o baldinho de uma política que suscita ainda menos paixão do que as campanhas já mortas de conteúdo e sem sentido do final do século 20.
PT e PSDB, Dilma e Serra, parecem diluídos e misturados no mesmo molho de marquetagem, falta de ideias e de convergência ideológica. Dilma e Serra aderem estritamente ao princípio da realidade política.
Marina Silva, PV, seria a "novidade" desta campanha, "ambientalista, mulher, parda e pobre", uma diferença na planície tediosa do cenário político um morro de 50 metros, porém. Marina foi bastante escovada pela realidade, ex-ministra de Lula etc. É agora adotada também por marginais mauricinhos da política e dos partidos ditos tradicionais. Ainda terá esse papel, na falta de opção. Mas o riso perverso, vingativo, suscitado por Plínio é um indicativo do tamanho do desgosto da "parcela informada" do eleitorado.

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