sábado, 7 de agosto de 2010

OS FOLGADOS

XICO SÁ.
2010 é o 68 da bola.
Espanha e Santos mostraram como o bom futebol pode vencer, mas ainda existe quem seja contra
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, algo de estranho ronda o futebol neste ano da graça de 2010: a bola, essa ingrata, tem retribuído, como nunca, o amor a ela dedicado. Repare no caso da Espanha, com suas preliminares de incontáveis toques; mire o Santos, exemplo ainda maior de bons tratos e até de um certo abuso de requintes.
Um perigo, meu velho, vai que a torcida, independentemente do clube, adota de vez o parâmetro. Isso, porém, ainda demora, não se iluda. Muita gente ainda faz birra, desdenha da leveza, ficou mal- -acostumada, resquício autoritário, com os brucutus. Prefere chamar os meninos da Vila de "folgados", como se a marra não fosse apenas um escudo e característica normal da juventude suburbana que ascende.
Não há marra mais legítima. Não se pode criminalizar a "folga" ou a firula, como os conservadores rotulam as artimanhas que não resultam obrigatoriamente em gol.
Na minha pobre crença, todo drible resulta em algo proveitoso para o time. Quanto mais longe do gol e mais perto da torcida, melhor. Ganha a plateia da arena e mina o adversário de uma forma dramática. Daí para uma expulsão ou um vacilo do inimigo é um salto. Expõe a fraqueza humana e ajuda no triunfo.
Pena que, na maioria das vezes, a arbitragem também incorpore fácil a tese da "firula". Vigia e pune o artista em vez de castigar o bruto. Aqueles cães aos pés dos policiais conseguem ser mais sensíveis do que certos juízes.
A dita "folga" mexe tanto com a cabeça dos árbitros que um bandeirinha fez questão, ao final do jogo anteontem na Bahia, de reclamar do comportamento da turma alvinegra mesmo durante a comemoração do título. O portal UOL destacou a bizarra cena.
Ainda bem que a bola, neste ano, está convertendo carinho em resultados, algo inconcebível aos espartanos que haviam esquecido ser esta a melhor e mais fácil das rotas. Eis a graça de 2010, uma espécie de 1968 em que a imaginação vingou no poder, como queriam os infantes da Bastilha há mais de quatro décadas.
Infelizmente diremos adeus aos meninos que conquistaram o nono título nacional do Peixe diante de um também ofensivo e "firulento" Vitória. O legado, no entanto, assim como o dos espanhóis na Copa, ficará quicando por muito tempo no juízo dos homens que regem o nosso futiba.

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