sábado, 7 de agosto de 2010

FUTURO NEBULOSO - MANO-PROGRAMAS

 Por Carlos Chagas.
Aprende-se no primeiro ano da Faculdade de Direito que a finalidade da pena é dupla: reparar o passado e prevenir o futuro. Na atual campanha pela presidência da República, onde não há réus, a lição poderia ser assimilada na medida em que deveriam, os candidatos, criticar ou elogiar o passado tanto quanto definir o futuro. Não é o que anda acontecendo. Ainda no debate da noite de quinta-feira dedicaram muito mais tempo demolindo ou sedimentando o governo Lula, sem maiores cuidados para com os supostos próprios mandatos, que todos almejam.
Cada campanha dispõe de características próprias, não dá para nivelá-las num único denominador comum. Em especial depois da adoção do discutível princípio da reeleição, vigarice imposta ao Congresso para garantir mais um mandato aos governantes em exercício.
Em 1998 e em 2006, quando se reelegeram, nem Fernando Henrique nem Lula preocuparam-se em prometer inovações para o segundo tempo. Limitaram-se a alardear o sucesso do primeiro e a necessidade de sua continuidade por mais um período. Quando conquistaram o poder, em 1994 e em 2002, estavam voltados para o passado: o sociólogo bendizendo o Plano Real e, mesmo pouco à vontade, elogiando o antecessor, Itamar Franco; o companheiro, ao contrário, descendo tacape e borduna em Fernando Henrique, apesar de depois haver preservado em gênero, número e grau sua política econômica.
Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva pouco tempo de campanha tem dedicado ao futuro, ao que pretendem realizar. Além de genéricas considerações sobre investimentos em educação, saúde, segurança pública e meio ambiente, não particularizam nem detalham nada.
Conta a crônica que na República Velha era diferente. Exceção de Rui Barbosa e Getúlio Vargas, aliás, ambos derrotados, que percorreram o país prometendo mudanças profundas, os demais candidatos mantinham-se imóveis, limitando-se a um único pronunciamento, depois de indicados. Mas dedicavam-se ao futuro. Costumava ser num jantar de casacas, no Automóvel Clube, no Rio, onde apresentavam suas “plataformas”. Justiça se faça, eram peças detalhadas que no dia seguinte ocupavam duas ou três páginas de jornal, em tipo pequeno. A exceção foi Epitácio Pessoa, indicado e eleito enquanto se encontrava no exterior. Apesar da freqüente fraude no processo eleitoral, pelo menos sabia-se a quantas pretendia ir o candidato.
Em suma, e apesar da farsa dos programas que Dilma, Serra e Marina entregaram ao Tribunal Superior Eleitoral, quando do pedido de registro, o eleitorado continua ignorando como será, na prática, o governo de cada um deles.

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