Por Carlos Chagas
O passado continua sendo nosso maior professor, menos por dizer o que devemos fazer, mais por apontar o que precisamos evitar. Vale contar um episódio dos tempos da participação brasileira na II Guerra Mundial, modesta se comparada com os grandes exércitos em confronto, mas heróica em termos de sacrifício, desprendimento e imaginação.
Em outubro de 1944, quatrocentos integrantes do grupo da recém criada Força Aérea Brasileira desembarcaram no porto de Livorno, na Itália, depois de meses de treinamento nos Estados Unidos. Eram pilotos, oficiais, sargentos, praças e até enfermeiras.
Na mesma tarde da chegada foram conduzidos, em caminhões, até uma base da Força Aérea americana que seria transferida para outro local, na cidade de Tarquínia. Assumimos as instalações, os aviões e toda a parafernália correspondente.
O coronel chefe da base que passava à nossa responsabilidade, coronel Gabriel Disosway, promoveu um desfile solene de sua tropa, que se despedia. Nossos aviadores ficaram perfilados sob o comando do coronel Nero Moura. No final, os americanos cantaram orgulhosamente o hino da Aeronáutica dos Estados Unidos. Pelo microfone, fomos convidados a cantar o hino da nossa Força Aérea. Seguiu-se um frio na barriga de todos os brasileiros, porque a FAB, criada meses antes com a reunião de pilotos do Exército e da Marinha, ainda não tinha hino.
O constrangimento só durou alguns momentos, pois, saído da fileira lá de trás, o sargento Oséas, amazonense atarracado com vivência no Rio, aproximou-se do comandante brasileiro e sugeriu: “coronel, mande nossa banda tocar a “Jardineira”, porque esses gringos não vão entender nada.”
A ordem foi dada e a nossa tropa inteira cantou a música vitoriosa no último Carnaval, cantada por Orlando Silva. Quase todos choravam, foi um sucesso absoluto, para espanto dos americanos que jamais haviam escutado hino tão sentimental.
Essa historinha se conta a propósito da sucessão presidencial. Quando sobem ou descem dos palanques, nem Dilma Rousseff nem José Serra nem Marina Silva são saudados com hinos relativos às suas campanhas, que ironicamente não existem, ao contrario de outros candidatos e de outras eleições passadas. Os marqueteiros de hoje andam perdendo tempo.
Vai, assim, a proposta, calcada na genial sugestão do sargento Oséas, da FAB, mais de sessenta anos atrás.
Que tal os partidários de Dilma Rousseff cantarem “A Banda”, de Chico Buarque, aquela do “estava atôa na vida, o meu amor me chamou, para ver a banda passar...”
José Serra se deliciaria com “Não dá mais para Segurar”, do Gonzaguinha, e Marina Silva aprovaria o “Abre Alas que eu Quero Passar”,do Sinhô. Os demais sete candidatos talvez se incomodassem com o “Ninguém me Ama, Ninguém me quer”, de Antônio Maria. De qualquer forma, o leque está em aberto, à espera de sugestões mais modernas...
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