Guerrilheiro petista na internet irrita caciques do partido.
Marcelo Branco apareceu para a entrevista, num hotel em São Paulo, de calça arroxeada, camisa polo de manga comprida estampada com caracteres garrafais e tênis lilás com cadarço cor de vinho.
Pulseira de miçangas, anéis e brinco de argola, normalmente encoberto pela cabeleira revolta quase na altura dos ombros, complementam o conjunto.
"Guru virtual" tem direito de opinar, diz Dilma
A estampa do coordenador de mídias sociais da campanha de Dilma Rousseff (PT) acolhe uma identidade que, no calor das refregas políticas, torna-se desdobrável.
"Quem está falando agora é o Marcelo da campanha da Dilma. No Twitter é uma expressão individual, o Marcelo que tem suas opiniões", diz. Quase autodefesa, a confusão surge do modo como Branco conduz sua queda de braço com políticos petistas.
Cardeais do partido chiam com a libertinagem do interneteiro de Dilma, indomável no seu bunker no Twitter. "A política está aprendendo a conviver com o mundo geek", interpreta.
Branco age sem combinar com a coordenação política e, toda vez que causa desconforto, defende-se dizendo que emitiu uma opinião pessoal, e não pela campanha.
Foi assim quando criticou a decisão de Dilma de não ir a um debate de um grupo de portais na internet.
Noutras vezes, por mais que o tom incomode, sua guerrilha agrada ao PT como ao acusar a TV Globo de fazer propaganda subliminar para José Serra (PSDB).
Cardeais do partido já tentaram rifá-lo. Só conseguiram tirá-lo dos canais oficiais o site e o Twitter de Dilma são subordinados a Rui Falcão, coordenador de comunicação da campanha.
O enquadramento parece ter amplificado a figura de Branco, que, ao pôr sua cara nas redes sociais, fundiu sua imagem à de Dilma.
E, com o respaldo da candidata, escapou da degola.
O convite para que entrasse na campanha partiu de Dilma. Eles se conheceram no governo de Olívio Dutra no RS (1999-2002), do qual ela foi secretária de Minas, Energia e Comunicações e ele, vice da Procergs (empresa estadual de informática).
Branco, 49, participou da fundação do PT de Porto Alegre, sua cidade natal. Não concluiu engenharia elétrica, mas tem um currículo de 30 anos no setor de TI (tecnologia da informação).
Além da Embratel e órgãos públicos gaúchos, trabalhou para uma fundação em Barcelona, foi consultor de empresas e, até assumir a atual função, dirigia a Associação Software Livre e a edição brasileira da Campus Party, megaevento de internautas.
Reencontrou Dilma em Brasília em 2005, quando foi consultor do Planalto na elaboração da proposta brasileira para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação.
Branco tem contrato até o fim da eleição. Não revela o valor. No PT, diz-se que ganha em torno de R$ 50 mil de salário, fora verba para manter uma equipe de 15 pessoas.
COLABORATIVO
No Twitter, ele agita a militância e faz o que chama de "coberturas colaborativas" de eventos de campanha.
Do confronto das candidaturas adversárias, sobram acusações, de baixarias a uso de robôs para amplificar mensagens de apoio. As críticas são até amenas perto do fogo amigo que Branco recebe de políticos do PT. "Ele se atribui mais importância do que tem", cutuca um cardeal do partido.
"Se ele acha que (pela ligação com Dilma) tem costas quentes, está muito enganado", dispara outro dirigente
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