As frases poderiam ser de um narrador de futebol nas partidas da Copa do Mundo: "Mete pra dentro, seleção!" ou ainda "Entra com bola e tudo!". Mas elas estampam camisetas da mais recente coleção da Daspu, a Daspu Futebol Clube.
A grife, criada por prostitutas, surgiu no Rio há cinco anos como projeto da ONG Davida. A série de camisetas para a Copa será lançada hoje no hotel Paris, na praça Tiradentes (célebre ponto de prostituição).
A linha inclui ainda as frases "Ser brasileiro não é para principiantes", com um número 69 estampado nas costas, e "Eu jogo pelada!". O "duplo sentido ou sentido explícito", como diz o designer da grife, Sylvio de Oliveira, já passou por outros figurinos da história da Daspu.
O próprio nome da marca, aliás, é "inspirado" na butique de luxo Daslu. Mas, na marca carioca, os preços não passam de R$ 70. Camiseta da Copa, à venda no site da grife Daspu, por exemplo, sai por R$ 32.
O preço é mais da metade de um programa com uma das prostitutas (e modelos) mais antigas da grife. Gerenilza Marinho, 56, recebe R$ 50 de alguns clientes, mas quase não faz mais ponto em Nova Iguaçu, município da baixada fluminense, onde "batalhou" por 30 anos.
"Não tenho mais tanto cliente, porque... a idade, né? Homem quer novidade, minha filha", diz ela. "Tenho cliente antigo, de dez anos de convívio, que me liga e me paga até se eu não fizer programa", completa.
Nilza, como é conhecida, desfilará hoje. Vai descer as estreitas escadas do hotel Paris com outras 12 modelos - nem todas prostitutas. Haverá, por exemplo, duas alemãs, um ator de teatro e uma antropóloga na "passarela".
"Aqui não tem diferença se é alta, gorda, baixa. A Daspu quebrou isso. O pessoal lá em Nova Iguaçu não acreditava que eu viajava, desfilava. O povo pensa: prostituta não tem chance de nada. Foi todo mundo caindo na real que a gente pode tudo", orgulha-se Nilza, mãe de cinco filhas, "todas muito bem casadas".
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