terça-feira, 3 de agosto de 2010

PT VERSUS PT

COLUNA DO CLAUDIO HUMBERTO
Chagas analisa a disputa PT vs. PT.
Mais uma notícia gera polêmica na disputa à Presidência. O PT teria elaborado um dossiê contra a filha do ministro Guido Mantega (Economia), a modelo e empresária Marina Mantega, acusada por sindicalistas bancários de interferência na escolha do presidente da Previ. Porém, Dilma afirma que não se trata de um dossiê, e sim de uma "carta anônima".
Em seu artigo desta terça-feira Carlos Chagas lembra que “o negócio parece tão fascinante que gera conflitos entre os detentores do poder, como agora: divide-se o PT para ver quem controla a Previ”.
Por Carlos Chagas.
Até o fim de semana a baixaria seguia um roteiro ortodoxo, quer dizer, agrediam-se o PT e o PSDB. De um lado os partidários de Dilma, às vezes até a própria, de outro os adeptos de Serra, com ele na frente. Como a demonstrar que na campanha eleitoral o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera, a baixaria avançou e desde o final da semana assistimos o capítulo do PT versus PT.
Dossiê ou carta-anônima, a verdade é que os companheiros encenam um espetáculo singular de canibalismo explícito. Sindicalistas bancários acusam a filha do ministro da Fazenda de interferência na escolha do presidente da Previ, o fundo de previdência social dos funcionários do Banco do Brasil.
Tanto faz se verdadeira ou falsa a denúncia, mas a verdade é que ela pegou. Também, trata-se de uma disputa pela caverna do Ali Babá. Não apenas a Previ, mas a totalidade dos fundos de pensão das estatais transformaram-se para os governos numa das maiores fontes de renda e de manipulação de recursos. Ninguém esquece a utilização dessas centenas de milhões nas privatizações fajutas da administração Fernando Henrique Cardoso. Junto com o BNDES, os fundos de pensão das estatais substituíram empresas nacionais e estrangeiras na aquisição de patrimônio público. Praticou-se o capitalismo sem capital privado naquela prática que chegou “às raias da irresponsabilidade”, conforme um de seus artífices.
No governo Lula continuou a usurpação do dinheiro dos funcionários das estatais, ainda que com finalidade menos deletéria do que no período do antecessor: os recursos da Previ e suas irmãs são utilizados para financiar obras de infra-estrutura. Ficará sempre a suspeição de que os dirigentes dessas entidades são nomeados e cooptados politicamente para obedecer ordens dos governos. Quando não acabam favorecidos pessoalmente, pois até hoje ignoram-se seus salários e as comissões verificadas no recôndito de cada gabinete e de cada operação.
Pois é. O negócio parece tão fascinante que gera conflitos entre os detentores do poder, como agora: divide-se o PT para ver quem controla a Previ. O grotesco na história é que o dinheiro pertence aos futuros aposentados, que descontam mensalmente percentuais de seus vencimentos, mas nem por sombra participam da decisão sobre suas aplicações. Não seria o caso de consultá-los?

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