Emir Sader.
O paternalismo que busca, com certo esforço, recolher imagens de um continente em estado de natureza, de uma natureza selvagem – convidativa aos safáris - em meio a uma miséria, nunca explicada. Fica sempre a visão costumeira: um continente “selvagem”,”bárbaro”, que nunca conseguiu se desenvolver por taras originais: guerras entre etnias, propensão “natural” ao autofagismo, ignorância, dificuldades para assumir os valores da “civilização ocidental”, incapacidade para o “desenvolvimento”, o “progresso”, o “bem estar”, que leva a que parte dos africanos imigre para países “brancos”, onde se manterão em situação de inferioridade, mas onde alguns, por exceção, podem ascender – via de regra via futebol ou música. As imagens da miséria africana, do seu atraso, das suas tragédias, nos habituam a considerar o continente como fadado a um destino de abandono irremediável.
O paternalismo que busca, com certo esforço, recolher imagens de um continente em estado de natureza, de uma natureza selvagem – convidativa aos safáris - em meio a uma miséria, nunca explicada. Fica sempre a visão costumeira: um continente “selvagem”,”bárbaro”, que nunca conseguiu se desenvolver por taras originais: guerras entre etnias, propensão “natural” ao autofagismo, ignorância, dificuldades para assumir os valores da “civilização ocidental”, incapacidade para o “desenvolvimento”, o “progresso”, o “bem estar”, que leva a que parte dos africanos imigre para países “brancos”, onde se manterão em situação de inferioridade, mas onde alguns, por exceção, podem ascender – via de regra via futebol ou música. As imagens da miséria africana, do seu atraso, das suas tragédias, nos habituam a considerar o continente como fadado a um destino de abandono irremediável.
As profundas e determinantes causas históricas da situação da África parecem resumir tudo o que de pior a humanidade produz – devastação ambiental, contaminação, genocídios, miséria, etc., etc. – e estão sempre
ausentes, fazendo passar um discurso de naturalização de tudo isso: a África nasceu atrasada e ficou condenada a esse “destino”.
ausentes, fazendo passar um discurso de naturalização de tudo isso: a África nasceu atrasada e ficou condenada a esse “destino”.
Duas causas históricas claras determinam essa situação vivida pela África: a colonização e a escravidão. Vítima da sanha das potências coloniais européias, a África foi, literalmente, esquartejada e dilapidada. Olhem para o mapa africano e verão as fronteiras feitas por régua entre as grandes potências européias – França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda -, todas brancas, que se reivindicavam o direito de se apropriar da África em nome da “civilização” contra a “barbárie” em que estariam submersos os africanos.
À colonização, de que foram vítimas também a Ásia e a América – todos continentes não brancos – se somou, no caso da África a escravidão, com toda a crueldade de tirar a centenas de milhões de pessoas do seu mundo, para trabalharem como seres inferiores, discriminados, como escravos, para produzir riquezas para a elite colonizadora branca européia. Como pode se recuperar um continente sofrendo essas duas pesadíssimas cargas: a colonização e a escravidão?
Essas causas não são mencionadas por nenhuma reportagem, são as causas de tudo o que é apresentado e que, na falta de explicações históricas, passa como um fenômeno “natural”. O próprio apartheid – inevitável ao ser obrigatória a referência a Mandela – parece que caiu do céu e não foi parte da colonização.
Falta isso, falta o essencial – a colonização e a escravidão – para que se possa entender a África. Isso remeteria aos dois maiores temas conscientemente ausentes da grande mídia: o capitalismo – de que a colonização é parte inerente - e o imperialismo – sucessor do colonialismo.
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