sábado, 12 de junho de 2010

FUTEBOL GLOBAL

CESAR MAIA
A globalização do futebol gerou uma equação financeira de difícil solução para os países de menor renda. Como enfrentar custos de Primeiro Mundo com receitas de Terceiro Mundo?
O valor do passe de um jogador e a sua remuneração são definidos no mercado internacional, e os melhores, no mercado europeu. Com o enorme sucesso da política de João Havelange (quando presidente da Fifa), o futebol chegou à Ásia e à África.
O custo do atleta pronto estimulou outro mercado: a busca de meninos com potencial de craques. Vários deles, estrelas destacadas, nem sequer jogaram em seus países de origem, como Messi, do Barcelona, argentino de origem.
O futebol, por suas características de esporte onde nem sempre vence o melhor e os resultados são sempre de poucos gols, terminou se tornando de grande popularidade. A exceção é os EUA, onde esta equação não conseguiu atravessar a cultura esportiva norte-americana.
A condição de esporte popular atraiu os governantes, que passaram a investir no futebol. Isso vale para todos, incluindo, claro, os governos verticais, com destaque para os mais ricos, como os produtores de petróleo.
Mas esse mercado, embora pagando muito por um atleta, não atrai os melhores, porque a vitrine onde
devem brilhar e se expor é o mercado europeu.
Brasil e Argentina são os maiores exportadores. Os demais países da América Latina e da África abastecem o mercado europeu de segunda linha e só eventualmente o de primeira.
Dos 23 jogadores da seleção brasileira, apenas 3 jogam no Brasil, sendo que um com contrato externo.
Estudos da Crowe Horwath RCS e da Casual Auditores Independentes quantificaram o mercado brasileiro de futebol dos grandes clubes. A soma de todas as receitas dos 20 maiores clubes de futebol alcançou, em
2009, R$ 1,57 bilhão, ou, em média, R$ 6,5 milhões por mês, que devem cobrir todas as despesas.
A maior delas, o futebol, responde por 77% dessas receitas de todos estes clubes.
Na média, entre 2008 e 2009, as cotas de TV representaram 25% das receitas. A venda de atletas, 25%. Sem vender atletas, e na soma total, os clubes estariam no vermelho.
Os valores das bilheterias dos 20 grandes clubes somam 12% das receitas, ou R$ 190 milhões, o que é muito pouco.
Os bilhetes vendidos para o desfile das escolas de samba do Rio, em dois dias (mais um só para as arquibancadas), alcançam 20% disso. A publicidade, longe de seu potencial, responde por 14%.
Uma equação complexa, que exige a ação de especialistas para analisar como revertê-la. Ou se o futebol brasileiro continuará o melhor do mundo, mas em campos europeus.

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