terça-feira, 15 de junho de 2010

AS LÁGRIMAS DE TAE-SE

Jong Tae-Se chorando na execução do hino norte-coreano foi a imagem mais marcante do jogo no Ellis Park, a partida em si, futebolisticamente, foi pobre, como tem sido pobre esta copa, um gol da bola criticada, outro graças a um passe preciso de Robinho, e quase mais nada, mas não tem muita importância, porque cada vez mais me convenço de que numa copa, o evento é o que conta. O futebol é apenas um detalhe, o que vi, em resumo, foi um time de pouca imaginação, que enfrentou um bando de amadores muito aplicados e dispostos, que conseguiram a alegria suprema de marcar um gol nos poderosos brasileiros.
Por isso fico com as lágrimas comunistas de Tae-Se, que nasceu e vive no Japão, não sabe o nome de nenhuma rua da capital norte-coreana, simplesmente escolheu um país.
Primeiro, as bandeiras e as camisetas amarelas, desconfio que é assim em todas as Copas, mas sempre me comovo com esse sentido de união nacional meio fajuto que se vê a cada quatro anos, me comovo com as mocinhas nos pontos de ônibus com faixas na cabeça, com os velhinhos e velhinhas de bonés verde-amarelos que alguma loja de material de construção ou posto de gasolina deu de brinde, com motoristas de ônibus e táxi que colocam bandeirinhas na janela.
E com as crianças, que em Copas do Mundo têm seu primeiro, e a partir daí quadrienal, contato com essa coisa meio parecida com patriotismo, as crianças se divertem e se espantam ao ver um monte de gente torcendo para o mesmo time, elas que vivem num ambiente real, virtual e televisivo em que um quer comer o outro o tempo todo, e um jogo de futebol interrompe, por algumas horas, essa realidade competitiva que se aprende na escola e se apreende na vida, é isso o que faz o futebol numa Copa do Mundo coloca todos do mesmo lado, mesmo que por alguns instantes, apenas.
É claro que é tudo efêmero, o Brasileiro e, de novo, desconfio que alguns outros povos, também tem o hábito de se apropriar das vitórias, são sempre “nossas”, e individualizar as derrotas, jamais compartilhá-las, o que significa dizer que se a seleção não ganhar a copa, é claro que não “perderemos”, a derrota será exclusivamente do Dunga, como foi do Roberto Carlos e suas meias arriadas na última copa.
Bem, isso é filosofia de botequim, farei muita filosofia de botequim até o fim da Copa.
Voltemos às lágrimas de Tae-Se, o que explica essa devoção a um país que não é o dele, e que segundo todos os expoentes do chamado mundo livre é uma aberração política, humanística, ecológica, militar? É mesmo um grande mistério, Tae-Se, maior que a seleção brasileira, bem maior, seleção que, como escreveu um cara no Twitter, só está fazendo treinos secretos na África do Sul para não passar vergonha.
A seleção e o Dunga não têm mistério nenhum, são absolutamente previsíveis, já Tae-Se segue sendo o enigma de 2010.

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