quarta-feira, 16 de junho de 2010

AS VUVUZELAS.

Equipes de transmissão se "armam" contra as vuvuzelas.
Vuvuzelas dividem opiniões na Copa.
GEORGE VECSEY.
As vuvuzelas não estão nem mesmo na lista dos 10 mais, quando se trata de irritar os torcedores que assistem a jogos em estádios modernos.
Todo mundo está falando sobre as vuvuzelas, mas ninguém faz coisa alguma a respeito: Mark Twain, aquele grande jornalista americano de futebol, é que disse. Ou não. Até agora, as longas cornetas plásticas vêm rugindo por toda a África do Sul, irritando a todos exceto aqueles que as tocam. Minha posição pessoal é a de que as vuvuzelas não constam de minha lista pessoal de 10 maiores irritações - mas isso não significa que, se pudesse eliminá-las, eu não o faria.
Agora, uma novidade: nossa maravilhosa sociedade, que é incapaz de resolver o problema de um imenso vazamento de petróleo criado por ela mesma, aparentemente dispõe da tecnologia necessária a reduzir o ruído das vuvuzelas. O que representa alguma forma de progresso.
A companhia que transmite os sons e imagens da Copa do Mundo a assinantes de todo o mundo, a Host Broadcast Services, anunciou na terça-feira que havia dobrado o número de filtros sonoros a fim de reduzir o ronco lamurioso das vuvuzelas.
As cornetas vêm sendo tratadas como um ícone da cultura da África do Sul, e a Fifa, a organização que comanda o futebol mundial, se recusou a tomar medidas para que sejam proibidas.
No entanto, os telespectadores de todo o mundo, para os quais não há vantagem em adotar a visão politicamente correta quanto a algo que soa como um esquadrão de caças a jato decolando de suas salas, não param de se queixar do zumbido irritante que escapa de seus televisores. Dizem que está arruinando a experiência da Copa do Mundo, para eles.
Ao que eu respondo, bem, eles podem simplesmente assistir aos jogos sem som. E os torcedores nos estádios vêm redescobrindo a utilidade do humilde protetor de ouvido.
Ao longo dos primeiros cinco dias de jogos, minha impressão foi a de que o som estava mais baixo este ano do que foi na Copa das Confederações do ano passado, também realizada na África do Sul, quando as redes de TV pareciam ter microfones instalados dentro das vuvuzelas.
Na verdade, as redes têm trabalhado de maneira a reduzir o volume. John Skipper, vice-presidente sênior e diretor geral do site ESPN.com, disse na terça-feira que a ESPN estava empregando em suas transmissões um sistema de mixagem de áudio semelhante ao que adota para transmitir as corridas da Nascar e os jogos de basquete da NBA.
Skipper, que já viveu no exterior e sempre defendeu que a ESPN transmitisse mais futebol, não demorou a acrescentar que não havia feito lobby junto à Fifa pela proibição das cornetas nas partidas, afirmando que eram "parte da experiência".
Ele também apontou para o fato de que muitos torcedores holandeses vêm usando cornetas - cor de laranja, claro.
Alguns torcedores têm se queixado do nível de ruído nos estádios. Robin Van Peirse, atacante e um dos astros da seleção holandesa, quase recebeu um segundo cartão amarelo ao continuar um lance por não ter ouvido o apito de impedimento. Ryan Nelsen, o capitão da seleção da Nova Zelândia, brincou que não conseguia nem ouvir o seu técnico gritando da lateral do campo, e acrescentou que isso talvez nem fosse assim tão desvantajoso.
Para os telespectadores de todo o mundo, as redes de TV tomaram medidas de redução do ruído.
"Caso a vuvuzela continue a influenciar a diversão da audiência, consideraremos que outras opções existem para reduzir ainda mais o volume", afirmou a BBC em comunicado. É possível que os responsáveis pela transmissão criem um canal vuvuzela e um canal vuvuzela light.
Será que as cornetas se tornarão moda em todo o mundo? A casa de apostas britânicas William Hill começou a aceitar apostas sobre a proibição ou não às cornetas na próxima temporada do futebol inglês.
"A vuvuzela certamente polariza as opiniões, e suspeitamos que alguns clubes possam adotar regras que permitam proibi-las, caso ameacem se generalizar", disse Graham Sharpe, porta-voz da William Hill.
Quanto a assistir sem som, é algo que faço há anos a fim de evitar os clichês dos comentaristas e narradores de futebol. E, para os torcedores nos estádios, os protetores de ouvido se tornaram um item procurado na África do Sul.
Mas a verdadeira questão é determinar onde se enquadram as vuvuzelas na lista do que mais irrita dos esportes. Não estou certo de que sejam mais irritantes que o bombardeio incessante de comerciais em alto volume que os torcedores têm de ouvir em estádios de beisebol, especialmente os de Nova York. No Yankee Stadium, a música e som são tão altos entre os arremessos que o objetivo parece ser impedir que os torcedores conversem sobre o esporte. As apresentações que abrem os jogos de basquete no Madison Square Garden são um insulto aos sentidos.
No entanto, uma vez mais, enquanto eu digitava esta coluna em minha casa, ouvia o esquadrão local de vuvuzelas rugindo pelo bairro - o estrondo diário dos aparadores de grama. Estranhamente, os cortadores de grama que uso no meu gramado não parecem fazer assim tanto barulho. Os aparelhos de ar condicionado rugem. A pista de golfe vizinha parece enviar a 136ª Divisão Mecanizada para reparar os gramados às sete da manhã. Boa parte da vida moderna constitui um ataque incessante aos nossos sentidos.
As partidas da Copa do Mundo costumavam ser tão discretas, se comparadas à cafonice do espetáculo nos esportes americanos, que Alexi Lalas sentiu que faltava alguma coisa quando ele entrou em campo em sua primeira partida de Copa do Mundo, no Silverdome, em Michigan, no torneio de 1994. Sentiu falta do rugido amplificado pelos alto-falantes a que se acostumara ao assistir esportes pela TV. Agora a Copa do Mundo está recuperando o terreno perdido. Mas pelo menos os canais de TV sabem como filtrar as vuvuzelas. Melhor notícia dos últimos meses.
The New York Times - Foto: Reuters.

Nenhum comentário: