Nos anos 90, a onda de privatizações, provocada pelo avanço do neoliberalismo no mundo inteiro, atingiu o Brasil e desfez um valioso patrimônio público. O desmonte do Estado planejador, indutor de desenvolvimento, ganhara um discurso triunfante e monocórdico depois da Queda do Muro de Berlim, em 1989, e do desmantelamento da União Soviética, em 1991. Sob a égide do Estado mínimo, empresas estatais foram vendidas a preços irrisórios, em clima de queima de estoque de mercado varejista. Num balanço quase 15 anos depois, os benefícios ao país, tidos como alvissareiros, mostram-se duvidosos. A expansão do número de linhas telefônicas, por exemplo, deu-se numa velocidade impressionante. Mas houve um preço alto a se pagar. A telefonia brasileira é das mais caras do mundo.
No furor privatista, salvou-se, felizmente, a Petrobras, símbolo desde os anos 50 das capacidades nacionais. Para os defensores e ideólogos do liberalismo, a empresa de petróleo sempre foi de uma inconveniência monumental para suas teses. A estatal é eficiente, gera enormes divisas para o país e hoje aparece em 15º lugar no ranking das maiores empresas do mundo. Longe de representar a imagem de uma companhia paquidérmica, que suga recursos do Estado para cobrir prejuízos em virtude de métodos arcaicos e políticos de administração, a Petrobras, pelo contrário, tem significado uma fonte inestimável de geração de lucros, de tecnologia, de inovação, enfim, de desenvolvimento. Sua presença faz girar a roda da economia em dezenas de setores, como mostrou reportagem publicada ontem pelo JB.
Em 2009, as encomendas da empresa representaram cerca de R$ 42,21 bilhões ou 1,34% do Produto Interno Brasileiro (PIB). São pedidos que estimulam a indústria nacional. Em sete anos, a participação do mercado interno como fornecedor de equipamentos e insumos para a Petrobras subiu de 57% para 75%. O resultado desse aumento na geração de empregos e na qualificação de profissionais é direto e tende a avançar, especialmente depois da descoberta de óleo na camada do pré-sal. Nos próximos cinco anos, cerca de 200 mil pessoas, em 185 categorias de níveis básico, médio, técnico e superior, serão capacitadas no setor de petróleo e gás, um crescimento de 140% em relação ao período de 2006 a 2010 (83 mil pessoas).
Até 2013, esta cadeia produtiva da estatal atrairá investimentos da ordem de US$ 190 bilhões, em contratos que demandam desde válvulas e parafusos até os 49 petroleiros encomendados pela Transpetro, subsidiária da Petrobras – o que está fazendo ressurgir a indústria naval brasileira, depois de seu sucateamento nas últimas décadas. A reboque das encomendas e dos projetos, vem a necessidade de pesquisa, de inovação, a conquista de patentes, um know how que já fez o Brasil dominar como ninguém a exploração em águas profundas e pôs o país na ponta-de-lança de setor tão estratégico.
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