FLAVIO GOMES
Assisti à toda a cerimônia de lançamento do logotipo oficial da Copa de 2014. Que, aliás, não é novidade para os leitores do iG e, por tabela, deste blog. Antes mesmo de a Copa de 2010 começar o iG furou todo mundo e mostrou como seria o emblema, lembram? Se não lembram, lembrem. Está aqui.
Quem desenhou a bagaça foi a agência África, de Nizan Guanaes. Algumas agências que participaram do concurso ficaram meio putas da vida. Entre outras coisas, porque a comissão julgadora tinha Ivete Sangalo, Gisele Bündchen e Paulo Coelho. Além de Hans Donner.
Hans Donner é o logotipista (existe isso?) da TV Globo. E é apenas a primeira ponta do iceberg global que será essa Copa de 2014.
Anotem: teremos todo tipo de desmando, sacanagem, roubalheira, desvio de grana, absurdo e putaria na montagem dessa Copa. Mas, na Globo, ela será, nos próximos quatro anos, a coisa mais rósea do planeta, nossa afirmação definitiva, teremos os melhores estádios do universo conhecido, será a prova de que o povo brasileiro, com muito orgulho e com muito amor, é capaz de tudo.
A Copa é da Globo. Viram os mestres-de-cerimônia da apresentação na África do Sul? Fernanda Lima e seu namorado cujo nome me escapa (a Mia, aqui da rádio, me diz: Rodrigo Hilbert; o que ele é?, pergunto, e a Mia: bonito, lindo, gato). Ambos são atores da Globo, e são casados.
Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. Me diz ainda a Mia: são o Casal 20 da Globo. Certo.
Coisa mais brega, puta que pariu.
Aí vem o clipe com as imagens de sempre, carnaval, mulatas, pantanal, Amazônia, espigões de São Paulo, Pão de Açúcar, Corcovado, elevador Lacerda, praias, tutu de feijão, tudo ok, porque é isso que tem mesmo no Brasil, não se deve ter vergonha de nada. O Brasil é bonito e essas coisas são legais.
Mas o narrador era Renato Machado. Da Globo.
Ao final do clipe, a vinhetinha Brasil-sil-sil. Da Globo.
O diretor da cerimônia foi Luiz Gleiser. Da Globo.
Ora, vão todos lamber sabão.
Como eu disse outro dia, quando Ricardo Teixeira deu sua primeira entrevista pós-Copa à Globo nada mais estava fazendo do que devolver à emissora o controle da seleção, uma vez que a CBF é sua parceira comercial. Tiraram uma onda com o Dunga, fizeram ironias e piadinhas, como se Dunga tivesse sido apenas uma brincadeirinha de mau-gosto de Ricardo Teixeira, uma deliciosa molecagem, ah, Ricardinho, seu traquinas, como você é espoleta, faltou Galvão Bueno dizer.
Agora as coisas estão de novo em seu devido lugar. Dunga cairá no ostracismo dos pampas, de onde foi retirado para dirigir a seleção. Tino Marcos voltará a falar, sorridente, sobre convocações e treinamentos. Régis Resling voltará a fazer suas matérias em Teresópolis com patos e gansos como personagens principais. Fátima Bernardes voltará a ter um estúdio dentro do hotel, mas isso é só para 2014. Os convocados voltarão a conversar com o Louro José e participarão do Caldeirão do Huck.
Tirando isso, digamos que a escolha de nossa amostragem cultural nessa apresentação foi das coisas mais pobres. Barbatuques é demais para este velho escriba. E “Mas que Nada” é o maior clichê musical do país na Europa há anos, toca em qualquer rádio chinfrim e nas baladas quando o DJ convida todos a tomarem caipirrinha.
De bom, mesmo, só o divertidíssimo discurso de Lula, dizendo a Beckenbauer, que nem estava lá, que ele foi o melhor jogador que viu jogar, “depois do Pelé e de mim”.
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