Por Carlos Chagas
Mais grave do que Dilma Rousseff haver trocado seu progressista programa de governo por outro insosso e inodoro, horas depois de apresentá-lo no Tribunal Superior Eleitoral, é saber porque a candidata promoveu a mudança. Não que tenha inovado alguma coisa. O Lula está cansado de fazer o mesmo, desde 2002, quando nos palanques prometeu reformas de verdade e acabou escrevendo a tal “Carta aos Brasileiros”. Ainda há pouco assinou o Plano Nacional dos Direitos Humanos e depois rasgou, uma por uma, suas inovações.
O triste, nesse episódio ocorrido na inauguração da campanha eleitoral, é que a candidata cedeu às mesmas pressões que vem marcando o governo de seu patrocinador. Importa menos ter sido intermediário Antônio Palocci, como representante das elites. Frustrante foi ver Dilma retirar do texto propostas como a taxação das grandes fortunas, a função social da imprensa, a redução da jornada de trabalho, o fim da criminalização dos movimentos sociais e outras de igual significado.
Está em festa o andar de cima, cientes seus inquilinos de poder fazer com ela o que tem feito com ele, ou seja, impor a permanência de seus privilégios. Ainda assim, passaram recibo através dos editoriais dos jornalões, seus porta-vozes. Admoestaram Dilma por haver ousado apresentar o texto inicial, mesmo tendo sido retirado horas depois. Daqui a pouco estarão proibindo a ex-ministra até de pensar diferente deles. Se esse ensaio-geral exprime a peça a ser encenada pelo novo governo, no caso de vitória da candidata, melhor será deitar ao mar as ilusões, se alguém ainda as possui.
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