sábado, 10 de julho de 2010

UM TOSTÃO NA COPA

JUCA KFOURI
O privilégio não é só dos leitores desta Folha. É também de quem pôde conviver com ele na África
GÊNIOS DA raça existem poucos, pelo menos no Brasil. E Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, é um deles.
Foi, como jogador, um fora de série, mas, aí, é verdade, muitos outros brasileiros também foram, alguns até melhores do que ele, embora esteja na minha seleção de todos os tempos muito antes de o conhecer pessoalmente.
E ainda, também antes de conhecê-lo pessoalmente, percebi que estava diante de textos de alguém diferente, capaz de escrever como jogava, sempre de maneira minimalista, inteligente. E surpreendente, porque com brilho.
Mas Tostão é ainda bem mais que tudo isso.
Porque é um baita companheiro de trabalho, de viagem, de cobertura, além de ser discreto ao extremo, quase imperceptível, mas sempre agudo e solidário, atuando também como nosso médico em diversas ocasiões. Tostão tem um senso de humor especial e um espírito crítico demolidor, daqueles que, quando põem o dedo na ferida, doem mais do que qualquer palavrão.
Conto tudo isso neste sábado porque quero dividir com o leitor, que tem o privilégio de poder lê-lo, o de ter passado ao seu lado, até como seu motorista (ele só é ruim como copiloto), estes 40 dias de África do Sul. E para contar um episódio que resume todos os demais, em todos os dias em que foi reconhecido e homenageado por gente do Brasil e do mundo inteiro.
No dia seguinte à derrota do Uruguai para a Holanda, tomamos o elevador no hotel na Cidade do Cabo, e cinco torcedores da Celeste entraram também. Eis que um deles o viu e exclamou: "Tostao, que mala lembrança, mas que honor...".
Referia-se aos dois passes que Tostão deu para o Brasil virar a semifinal da Copa de 1970, exatamente contra o Uruguai.
E o torcedor, mais velho que os demais, passou a explicar para os amigos quem Tostão é, além de pedir o obrigatório autógrafo e a infalível foto desde que os telefones viraram máquinas fotográficas.
Em outras Copas, já tinha visto as pessoas se aproximarem dele com veneração e constatado a delicadeza com que as recebe, além das dezenas de jornalistas estrangeiros que, ao reconhecê-lo, pedem uma entrevista, jamais negada. Mas ganhei esta Copa ao poder estar sempre ao seu lado.

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