JUCA KFOURI
No México, "Ahorita mismo". Na África do Sul, "Sorry about that". E no Brasil, o que será dito?
O ATENDIMENTO em todos os lugares durante a Copa do Mundo não poderia ter sido mais simpático. Tudo diretamente proporcional à ineficácia e à incompetência.
Eram raros os que sabiam informar alguma coisa com exatidão, da porta certa para entrar no estádio ao ponto onde se pudesse tomar um ônibus. E, sempre que alguém era pilhado diante de sua ignorância, as palavras saíam da ponta da língua: "Sorry about that", dito com um sorriso que imediatamente dava raiva, porque parecia escárnio, mas que era mesmo de autêntico constrangimento.
No México, na Copa de 1986, o "Ahorita mismo" dos mexicanos, que demorava uma eternidade, entrou para o folclore dos que cobriram o torneio, particularmente prejudicado, na capital federal, pelos congestionamentos gigantescos, do porte dos de São Paulo de hoje.
Quando se ouvia "Ahoritita mismo", então, era coisa para se esperar duas horas, no mínimo.
A África do Sul é claramente um país em processo, uma nação em construção, pois a democracia racial é ainda um objetivo que não será alcançado a curto prazo, tão clara é a divisão dos lugares dos brancos, de padrão europeu, e dos negros, de padrão do que se convencionou imaginar ser africano. E a mobilidade social é uma quimera, sinal de pouca democracia.
Se Johannesburgo é um bunker mais sem alma do que Brasília, e Durban lembra Niterói, como Port Elizabeth lembra Santos, a Cidade do Cabo é um espetáculo fascinante que tem um pouco do melhor do Rio, bastante de San Francisco, nos Estados Unidos, e Saint-Tropez. Cada uma dessas cidades com pelo menos um belo estádio de futebol, com tudo para virar um incômodo e dispendioso elefante branco, sem falar do que custaram acima do previsto e em atendimento aos compadrios que não são exclusividade nossa.
E aí é que está um dos pontos mais dramáticos da Copa de 2014, no Brasil. Se nem em São Paulo e no Rio temos uma estrutura de serviços capaz de falar inglês, o que substituirá o "Sorry about that"?
E no Nordeste, também tão belo como a África, como será? E o que fazer dos estádios de Manaus, de Cuiabá?
Os franceses diziam "Je suis désolé" em sua ótima Copa, em 1998. E nós diremos o quê? Dane-se?
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