Normalmente uma decisão de terceiro e quarto seria encarada com alguma melancolia, afinal é um encontro de perdedores, pela perversa lógica do esporte. Que é perversa, mas é a única que há.
Só que já tem alguns anos me surpreendo com esses jogos de terceiro-e-quarto. A primeira vez foi em 1978. O Brasil estava invicto, ficou fora da final porque o Peru entregou um jogo para a Argentina (não havia mata-mata, ou pelo menos não houve naquela Copa), e pegou a Itália no terceiro-e-quarto. Acho que era a Itália, este blog “Google-free” me impede de buscar informações mais precisas. Mas sim, era a Itália, disso eu lembro.
E o Brasil ganhou, 2 a 0 ou 2 a 1, e lembro bem de um gol do Nelinho, que era lateral-direito do Cruzeiro e um dia chutou uma bola para fora do Mineirão para o “Fantástico”. Um chute incrível, uma curva inacreditável, quase uma Tamburello para o outro lado, e os jogadores brasileiros comemoraram como se fosse o título, Nelinho de braços abertos, sorriso escancarado, terceiro é bom, uai.
Legal, aquilo.
Depois, me lembro também de 2006, quando a Alemanha, jogando em casa, perdeu uma semifinal e foi disputar terceiro-e-quarto com Portugal, e a torcida alemã, que poderia estar puta da vida porque seu time estava fora da decisão, ficou foi orgulhosa da vida com a vitória e o terceiro lugar, foi às ruas, festejou, agradeceu, orgulhou-se.
Creio que será assim quando os germânicos voltarem para casa ostentando a plaquinha P3 (estou meio automobilístico hoje) e medalhas de bronze no peito. Como será assim com os bravos uruguaios. Ouvi no rádio que são esperadas 500 mil pessoas no aeroporto de Carrasco, que tem um terminal novinho que é uma graça. Acho bem difícil, seria uma façanha para um país de 3,5 milhões de almas, mas que sejam 10 mil, ou 50 mil, não importa, eles merecem a melhor das recepções lutaram até o fim, meteram uma bola no travessão no último minuto, foi bonito ver o Uruguai voltando a ser protagonista, entre os grandes.
Terceiro é bom. Não é como ser campeão, mas é melhor do que ser vice, por exemplo. Em algumas pistas, melhor ainda, porque larga do lado limpo. Estou meio automobilístico hoje. E ficar em quarto também está OK, ainda mais para quem havia tanto tempo estava longe de qualquer disputa, não passava de coadjuvante, de escada para o sucesso dos outros.
Alemães e uruguaios podem voltar contentes, não ganhar uma Copa não é o fim do mundo. O jogadores honraram suas camisas, seus companheiros e seus treinadores, e ninguém ficou no pódio combinando balada no celular, como o Ronaldinho Gaúcho fez em Pequim em 2008. Isso ninguém me contou, eu vi. Quer dizer, vi o cara falando ao celular desinteressadamente enquanto argentinos e nigerianos, acho, recebiam ouros e pratas. Não sei se estava combinando balada, isso já é maldade minha. Mas achei meio desrespeitoso.
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