quinta-feira, 8 de julho de 2010

HOLANDESES SEM FÉ

PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"
Tradução de CLARA ALLAIN
A Espanha é quem se esforça para provar que o legado holandês não é idealista demais.
AMSTERDÃ É famosa por sua atitude permissiva em relação ao consumo de drogas, mas isso não significa que os holandeses saudarão a experiência psicotrópica que podem viver no fim de semana, porque a Holanda pode estar prestes a descobrir como é ser inglês. Vêm dores de cabeça pela frente! A Inglaterra é o país que inventa esportes e então assiste, raivosa e frustrada, ao resto do mundo fazer mais sucesso e se divertir mais com eles.
Essencialmente, ser inglês é ser traído. Isso faz muito mal à moral -mas faz bem à indústria de cerveja local.
A Holanda, como bem sabemos, é o lar ancestral do "Totaalvoetball" (futebol total), o estilo fluido do qual foram pioneiros o Ajax, de Rinus Michels, no final dos anos 60 e a seleção holandesa nos anos 1970. Esses times eram comparáveis a grupos de jazz de formato livre, em que cada atleta era um artista, e cada posição, uma fonte de criatividade.
Mas a Copa se manteve fora do alcance de Johan Cruyff e cia., e os holandeses perderam sua fé. Por isso, o técnico Bert van Marwijk emprega dois meio-campistas destruidores, De Jong e Van Bommel, o que faz dele não tanto um descendente de Michels, mas sim par de gurus como Domenech e Dunga.
Porém a Espanha, rival da Holanda no domingo, esforça-se para provar que o "Totaalvoetball" não é idealista demais para triunfar -de fato, os dois rivais de ontem tentam perpetuar o legado holandês, e, como o fazem bem, Espanha e Alemanha fazem um futebol mais bonito e mais perigoso do que a Holanda. Assim, as evidências até agora apontam para uma derrota holandesa. Mas o futuro ainda não foi escrito, e Van Marwijk pode mudá-lo, voltando-se pelo menos um pouco para o passado de seu país.
Se abrisse mão de um de seus zeladores do meio-campo- de preferência Van Bommel, que é menos dinâmico e mais brutal do que De Jong-, poderia substituí-lo por força mais criativa, especificamente Van der Vaart, que, ante o Uruguai, mostrou inteligência e precisão necessárias para virar o jogo para a Holanda. Se optar por Van der Vaart diante da Espanha, Van Marwijk pode evitar formar trindade nada santa com a Inglaterra e com Dunga. E pode ser endeusado não só como vencedor da Copa mas como o homem que promoveu a ressurreição, pelo menos parcial, do "Totaalvoetball" holandês.

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