Editorial, Jornal do Brasil
A cada desdobramento do sequestro e morte da jovem Eliza Samudio, detalhes macabros vão emergindo e dando contornos de uma tragédia ao desaparecimento da ex-amante do goleiro do Flamengo, Bruno. A frieza, a premeditação, a maldade dos supostos assassinos, a torpeza de desmembrar um corpo humano e entregá-lo às feras, nada disso pertence a almas que estão em paz com a própria consciência. Criaturas com tamanho grau de malignidade não possuem amarras morais que as impeçam de se transformarem em verdugos cínicos e impiedosos. O repúdio nacional – e, dada a repercussão do caso, agora internacional – manchou o noticiário que, por exemplo, dava espaço ao lançamento da Copa de 2014 no Brasil, em uma cerimônia na África do Sul. A índole de paz e bondade do povo brasileiro não merecia ser posta à prova por atos tão vis que até o mais calejado policial envolvido na investigação sofreu em seu emocional.
Eliza Samudio pode ter cometido todos os erros na vida. Mas, como mãe de um bebê de apenas quatro meses, parecia amorosa, dedicada e consciente da graça divina que é a gestação de uma nova vida. Paradoxalmente, sua sentença de morte foi dada em função justamente desse fato. Ter a existência abreviada por um ex-policial, criador de cães ferozes, que antes de estrangulá-la teria cheirado as suas mãos, é de uma crueldade sem limites. Muitas preces ainda serão necessárias até que sua alma incrédula com tamanha barbárie possa descansar em paz. O trabalho da Justiça, a partir de agora, deve isso a ela. E ao seu filho.
O caso é emblemático ainda pela combinação de fama, dinheiro e confusões envolvendo o universo do futebol no Rio. Jogadores consagrados, ídolos de crianças e adultos, não podem envolver-se em orgias, ou
justificar agressões a mulheres, a tantas Elizas da vida, como se isso fosse o comportamento correto de um homem. Também não podem acreditar que o dinheiro farto e absoluto garante a amoralidade de atos cuja carga de maldade transcendem a compreensão até do mais empedernido dos especialistas. Dizer que a fama pode trazer loucura é simplificar o caso: o que separa o homem do seu convívio sadio com os demais é o caráter. O menino que admirava Bruno como um atleta tecnicamente completo, corajoso e vinculado à imagem de garra do Flamengo, hoje se queda perplexo sem saber no que mais pode acreditar.
justificar agressões a mulheres, a tantas Elizas da vida, como se isso fosse o comportamento correto de um homem. Também não podem acreditar que o dinheiro farto e absoluto garante a amoralidade de atos cuja carga de maldade transcendem a compreensão até do mais empedernido dos especialistas. Dizer que a fama pode trazer loucura é simplificar o caso: o que separa o homem do seu convívio sadio com os demais é o caráter. O menino que admirava Bruno como um atleta tecnicamente completo, corajoso e vinculado à imagem de garra do Flamengo, hoje se queda perplexo sem saber no que mais pode acreditar.
Eliza Samudio virou um símbolo da podridão que envolve certos círculos no mundo do futebol. Pagou com a vida por ceder ao brilho mundano de um mundo no qual drogas, violência, corrupção e sexo são elementos mais importantes do que a busca pelo limite, pela superação individual em nome de um ganho coletivo, pela alegria popular. Um mundo no qual quem está fora do campo e se omite em casos assim tem tanta responsabilidade quanto os que matam.
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