quinta-feira, 1 de julho de 2010

MINHA PRIMEIRA LIÇÃO

O dia em que eu e o Zagallo levamos uma lição.
Dia 3 de julho de 1974. Nesse dia, eu e o técnico Zagallo levamos uma das maiores lições de nossas vidas.
Primeiro, Zagallo. Treinador da seleção brasileira, ele subestimou e foi surpreendido pelo time da Holanda, que, além de vários craques, representou o salto na preparação física que mudaria para sempre o futebol. Na verdade, o propalado "carrossel holandês" daquela Copa nada mais foi do que uma brutal diferença de condicionamento muscular e aeróbico dos europeus em geral sobre os sul-americanos. Tanto que o incensado técnico da "laranja mecânica", Rinus Michels, apontado como um revolucionário, nunca mais teve sucesso.
Dias antes do fatídico confronto, Zagallo deu uma entrevista comparando o esquema de jogo do nosso próximo adversário com o "tico-tico no fubá do América".
Basta lembrar que antes de levar um baile da Holanda, o Brasil havia empatado com Escócia e Iugoslávia, ganhado do Zaire pela diferença mínima e vencido apenas a pré-histórica Alemanha Oriental (com um gol de falta) e a Argentina, que também jogava em câmera lenta. Depois da Holanda, aquela nossa seleção ainda perderia o terceiro lugar para a Polônia.
Para piorar, havia vários craques no time holandês, como Cruyff, Krol, Neskens, Van Hanegem e Rep. Enquanto do lado dos canarinhos medalhões em fim de carreira davam trombadas em vez de dribles.
Agora, vamos à minha lição, eu tinha 9 anos, como meus colegas, achava que o Brasil repetiria as atuações de 1970, contávamos os minutos para comemorar os gols de Jairzinho, Paulo César e Rivelino, assim como fizéramos quatro anos antes, lembro que na véspera da estreia, contra a Iugoslávia, meu amigo Cauby dava a vitória brasileira como certa.
- Se o Brasil ganhar, não, quando o Brasil ganhar - ele me corrigia cheio de confiança.
Mas deu-se um empate chocho em 0 a 0, com o Brasil ainda levando uma bola na trave.
No futebol, porém, há sempre aquela esperança de que, de repente, tudo se ilumine e os jogadores comecem a acertar chutes, passes, lançamentos e cabeçadas. Cada novo lance é uma nova esperança, e todos esperávamos que naquele dia 7 de julho nossos craques fossem novamente ungidos.
O que se viu foi um baile de Cruyff e companhia. Nosso melhor zagueiro, Luis Pereira, acabou expulso, descontrolado, após quase partir um holandês ao meio. Marinho Perez levou um adversário a nocaute com um soco e Zé Maria foi advertido por agarrar Cruyff pelas pernas.
No dia seguinte, no grupo escolar, o clima entre os garotos era de revolta, nos sentíamos frustrados e injustiçados por não podermos comemorar nossa primeira Copa na flor da idade futebolística (9 anos). Sim, porque, em 70, éramos muito novos.
Foi então que entrou na sala da terceira série a, professora Constância uma das coordenadoras do saudoso Antônio Ferreira.
- Nós temos que saber perder, como souberam perder a Itália, a Romênia e todos os países que o Brasil derrotou na Copa passada.
Para mim, foi o bastante. Nunca mais fiquei revoltado com derrotas no futebol.

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