Acho que a primeira vez que a crônica esportiva brasileira se tocou que futebol tambem tinha tática, esquema, preparação, essas coisas, foi em 1974, foi quando apareceu a Holanda, de quem ninguém tinha ouvido falar, arrebentando, jogando um jogo diferente, prato cheio para a criação de expressões que acabaram sendo incorporados ao léxico ludopédico: futebol-total, carrossel, laranja mecânica.
Aquilo ali só podia ser fruto de alguma ciência maior, quem sabe trazida por ‘marcianos, resultado de anos e anos de treinos, estudos, laboratórios subterrâneos, seriam os holandeses astronautas, robôs, androides?
Parece que tem um livro do Cruijff, eu não li, que aquele time não teve preparação alguma, ciência nenhuma, era um bando de caras bons de bola, e o técnico Rinus Michels jogou as camisas para cima, quem pegou entrou de titular.
E começou a dar certo, corriam feito doidos, não guardavam posições, saíam todos juntos atrás da bola, ninguém entendia nada, o 7 não era ponta-direita, o 11 não era ponta-esquerda, o 6 não era lateral-esquerdo, uma confusão dos diabos, o craque do time era o 14, não o 10, e a Holanda foi indo, foi “fondo”, até eliminar o Brasil e cair diante da Alemanha na final.
Na Copa seguinte, todo mundo já sabia o que era a Holanda. E chegou à final de novo, desta vez contra a Argentina, quis o destino que os holandeses enfrentassem em finais justo os donos da casa nas duas vezes, e depois, em mata-mata, pegaram o Brasil mais umas duas, não lembro quantas, lembro de um jogo em 1994 e um gol de falta do Branco, e de uma decisão por pênaltis em 1998, o Zagallo descabelado, e acho que foi isso, não sei se teve mais.
Enfim, a Holanda virou time grande a partir de 1974, ganhou uma Eurocopa, fez a fama de ter um futebol bonito, e tem mesmo, e nos deu a oportunidade de externar certa erudição quando chamados somos a explicar o laranja da camisa, já que a bandeira é azul, branca e vermelha, e a explicação é que todo mundo na família da rainha gosta de suco de laranja, são doidos por Fanta (há uma parte da família que prefere Crush), e gostam tanto que resolveram adotar o sobrenome Orange, e como a Fanta patrocina secretamente essa seleção (a Crush tenta todos os anos e não consegue), a camisa é laranja.
Os laranjas passaram fácil pelos eslovacos hoje e na próxima fase é possível que peguem o Brasil de novo. Ganharam seus quatro jogos até agora sem esforço, nem arte, nem futebol-total, nem carrossel, nem laranja mecânica. Por enquanto, um time igual a qualquer fanta, sukita, crush, é gostoso, mas não inesquecível.
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