MOACYR SCLIAR
Viajam juntos com frequência; mas surgiu um problema: ela era esbelta e começou a engordar.
Um britânico que pesa mais de 200 kg foi tirado de um voo transatlântico por ocupar todo o espaço do seu próprio assento e mais de um terço da poltrona ao lado. Sandy Russell estava a bordo de um avião da empresa Air Transat para visitar uma tia no Canadá, quando uma aeromoça chamou-o para fora da aeronave e pediu que ele comprasse dois assentos no próximo voo disponível. Um porta-voz da empresa aérea justificou a decisão afirmando que o avião estava lotado e que a largura de Russell não permitia que fosse abaixado o apoio para o braço que separava a sua poltrona da do lado. Russell disse que se sentiu como "um terrorista" e acabou não viajando para ver a parenta.
Ao ser praticamente expulso do avião por excesso de volume corporal, ele sentiu-se muito humilhado.
Obeso, muito obeso, nunca passara por uma situação desse tipo, e a sua reação imediata foi de fúria. Logo, porém, ficou claro que aquela medida não era dirigida contra ele, pessoalmente; e que, por outro lado, precisava viajar de avião, coisa que até fazia parte de sua rotina de executivo. Resolveu, portanto, engolir sua raiva e tomar providências.
Destas, a mais óbvia seria fazer um regime para emagrecer. Mas ele não sentia muita vontade de fazer isso. No passado, tentara numerosas dietas e medicamentos, sem êxito, mesmo porque, solteirão e morando sozinho, não tinha ninguém que o estimulasse a perder peso.
Emagrecia um pouco, mas logo em seguida voltava a comer muito e seu peso aumentava até os quase 200 kg habituais.
Não, regime não. O melhor seria obedecer às determinações das companhias aéreas. Instruiu a agência de viagens que atendia à sua empresa para, daí em diante, comprar sempre dois assentos, lado a lado. Gastaria mais, claro, mas não se incomodaria com aeromoça alguma.
De fato, tudo funcionou bem. Ele sentava; a seu lado ficava o assento vazio. Vazio em termos, porque seu corpanzil ocupava boa parte do espaço vago. Os outros passageiros olhavam, sorriam (muitos sabiam da história), mas não diziam nada.
Um dia, porém, pouco antes do avião decolar, uma mulher ainda jovem e muito bonita perguntou a ele se o assento ao lado estava ocupado. Constrangido, respondeu que não, que o assento não estava ocupado, que ela até poderia ocupá-lo mas que, provavelmente, não se sentiria confortável ao lado dele. Ela disse que não se importava: o avião estava lotado, a poltrona que lhe haviam destinado não reclinava, aceitaria qualquer outro lugar. Sentou-se, pois, e de imediato começaram a conversar. Era um voo longo e quando terminou já haviam se tornado amigos. Daí a namorar foi um passo e no final daquele ano estavam vivendo juntos.
Com muita frequência eles viajam juntos. Mas ultimamente surgiu um problema: ela, que era esbelta, começou a engordar. É possível que breve já não caiba na poltrona adicional. Diante disto, ele tem três alternativas: 1) comprar três assentos, em vez de dois; 2) pode, ele próprio, emagrecer; 3) separar-se. Ah, sim, poderia deixar de viajar de avião.
Mas esta hipótese, no dinâmico mundo em que vivemos, está definitivamente afastada.
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