Por Carlos Chagas
Um fantasma ronda a campanha de Dilma Rousseff: o “já ganhou”, que ela própria tenta exorcizar em meio à precipitada euforia de montes de companheiros. É incontestável a prevalência da candidata nas pesquisas. Sua ascensão acontece de forma lenta e segura, desde que rompeu a barreira de um dígito, ultrapassando agora os índices de José Serra. Continuando as coisas como vão, estará eleita em outubro, ainda que contar com a vitória no primeiro turno pareça prematuro.
Diante dessa perspectiva, porém, ergue-se o “já ganhou”, principal fator e maior praga a assolar tantas candidaturas pretensamente vitoriosas, na crônica de eleições passadas. Porque muitos de seus partidários extrapolam resultados futuros e deixam de empenhar-se como deveriam. Já se disse mil vezes que pesquisas não ganham eleições. Representam a tendência do eleitor num determinado momento, mesmo devendo, pela lógica, desdobrar-se no mesmo rumo. Como política não tem lógica, faz muito bem Dilma Rousseff de conter seus auxiliares, aliados e simpatizantes, até com certa rispidez.
A experiência de eleições anteriores exprime um alerta. Em 2006 ninguém imaginava Geraldo Alckmin chegando ao segundo turno, mas chegou, obrigando o Lula a desdobrar-se na campanha. Em 2002 foi a mesma coisa, sendo José Serra o adversário, acrescendo que em determinado momento Ciro Gomes despontava como favorito. Ou alguém duvida de que na revisão constitucional de 1993 o Congresso reduziu os mandatos presidenciais de cinco para quatro anos, e sem reeleição, por medo do Lula ganhar em 1994, pois parecia imbatível, apesar de em seguida derrotado por Fernando Henrique?
Por essas e outras o “já ganhou” em favor de Dilma surge como um fantasma capaz de desmontar estruturas tidas como sólidas, fazendo muito bem a candidata em reunir seus assessores e até, se necessário, passar-lhes um pito. Comemoração, só depois da apuração.
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