terça-feira, 14 de setembro de 2010

CERCADINHO COM GRAMA

DO BLOG MULHER E FUTEBOL.COM - Marina Miyazaki Araújo.
Assim como técnico agora é professor, bandeirinha é árbitro assistente e time é grupo, a bola da vez é chamar estádio de arena. Dada a primeira explicação imprescindível, vamos ao que interessa, destilar peçonha sem preconceito:
Enquanto os torcedores genuínos se preocupam com o brasileirão, os “administradores” do futebol estão preocupados com o marketing dos seus clubes, usando a Copa de 2014 para “ganhar” o seu estádio, visando muito dinheiro e poder para enfim, satisfazerem seus caprichos.
Tentem desvendar qualquer briga entre os clubes, desembaraçando o emaranhado a partir de qualquer ponto e chegarão ao mesmo lugar: egos gigantescos competindo com os egos master de seus desafetos pessoais. É preciso mostrar o poder de compra. Por que todo mundo tem um preço. E para vencer a batalha de quem pode comprar mais coisas e pessoas, eles percorrem qualquer caminho, não importa quão sujo seja, quantas cabeças pisarão ou quantos tapetes puxarão, o que importa é o objetivo final: EU. “Eu estava na administração quando conquistamos.., Eu consegui.., Eu fiz..,Eu mandei.., Eu ganhei.., Eu comprei.., Eu..
Enquanto isso, os meninos, matéria prima que alimenta o futebol, deixam a escola para treinar num lixo de campinho, sonhando com o luxo das arenas. Não sabem que estar com o pé na bola, não lhes garante o mundo de fantasia prometido pelo futebol. Vide exemplo dos mineiros do Chile que tocam no ouro diariamente e hoje, estão a 700 m da superfície com a vida por um triz, só por que um dia, alguém encontrou a mina de ouro. E dinheiro existe pra quê? Para não suar a própria camisa e pagar quem cave buracos ou covas. Ou seja, 33 pessoas se ferrando para satisfazer os caprichos dos donos da mina que estão por cima da carne-seca e da terra, praticamente pisando as cabeças dos mineiros.
Mas, o importante é que, independentemente de estudo, meia dúzia de meninos do futebol estão ricos, ignorantes (ingnorantes, no dialeto do futebol), mas ricaços. “Sou milionário, eu posso tudo”, disse o
menino um dia desses.
Sabe-se lá, a custa de quem mais e do quê mais, a Copa do Mundo veio para o Brasil. Tá, não vou cair no velho discurso simplista “tem gente passando fome no país e eles investem dinheiro em estádios”, eu sei que “a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”, mas a escolha da arena – nunca mais diga “estádio” é démodé - para o primeiro jogo da Copa de 2014, foi de uma cara-de-pau tão espetacular, que começamos a duvidar até da nossa sanidade mental.
Sem falar na fortuna aviltante do orçamento, no prazo da construção, nos desvios de verba e em todas as baixarias a que, infelizmente, estão todos acostumados. Torcedores (incluindo a ala intelectual: cronistas, comentaristas, críticos, jornalistas que também adoram o futebol) não aceitaram, mas engoliram com farinha a historinha da escolha da arena. Ou tem alguém tomando atitude concreta e só eu não percebi? Apenas “descer o pau” com caneta e papel - que aceitam tudo - não vale. Nunca vi um movimento para a mudança desse mundo retrógrado do futebol. E sabem por quê? Por que mais vale o gosto de ver a bola rolando. Preferem pagar qualquer preço, “pagar pra ver” o espetáculo. A casa pode cair, se a arena estiver intacta, está tudo certo.
Aliás, palavra ‘arena’ lembra uma época em que existiam apenas dois partidos políticos, um a favor o outro contra: ARENA e MDB. E o futebol era um esporte com a função política de “ópio do povo”. Hoje ainda é alucinógeno, só não é mais um esporte, tornou-se um comércio escancarado sem pudor e agregou (agregar” do dialeto dos designers e arquitetos) valores de outros tempos: “Aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Preciso explicar os critérios utilizados na escolha da arena para a Copa? Votou contra aquilo que o ditador determinou, não mamarás nas tetas da Copa.
Atualmente, numa outra ARENA, meninos são bem pagos para jogar bola e só. Estudar, o que é isso mesmo? Manipuláveis e iNgnorantes (se não for do ramo, leia: ignorantes), acham chiquérrimo valer uma fortuna no mercado legalizado “de compra e venda de gente” do futebol. Mas aprenderam a única lição do futebol contemporâneo: o dinheiro compra tudo. Vale esclarecer, o ‘tudo’ deles cabe numa garagem.
Não é curioso o dinheiro também ser chamado de “capim”?
Estádio, arena ou campinho, tanto faz. Podem enfeitar, remendar, maquiar, reconstruir, fazer um novinho que, com essa concepção, não passará de um cercadinho com grama com os consumidores de “capim” do lado de dentro e de fora.

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